segunda-feira, novembro 28, 2005

Matemática

Certo dia andava eu preocupado pois ia ter mais um malfadado teste de matemática, e como sempre não via boi. Bem procurei, mas boi, népia. Aliás estava tanto calor naquela altura que até as moscas que deviam indicar onde andava o bicho estavam sentadas nas bordas dos alguidares com as patitas de molho. Ainda espreitei lá para dentro, vi hipopótamos mergulhados, mas bois, ó: Nummmmmmm vi nenhum!
Comecei a ficar mesmo muito preocupado pois tinha com uma ganda espinha na ponta do nariz que ameaçava rebentar a qualquer momento, e como ia estar com a Filipinha, podia ser um pouco chato se lhe estourasse aquilo na cara. A minha sorte é que tinha o teste de matemática que dava para me distrair e não pensar nisso. Senão ia passar o dia cheio de caguefo. Pensei que entretanto podia ser que a avó aparecesse e me tratasse da espinha, o que me acalmou um pouco…
Mas o teste era um dilema quase tão grande quanto a espinha, e deixem-me dizer-vos que a espinha era mesmo grande. E de dilema em dilema, tal elefante de nenúfar em nenúfar, lá saltitavam suavemente os meus pensamentos entre os problemas. Ainda tentei desenhar um boi no caderno para resolver a questão da matemática, mas ficou mais parecido com um porco. Portanto, eu continuava sem ver boi de matemática, e talvez fosse mesmo culpa da espinha no nariz que não me deixava ver as coisas em perspectiva.
Entretanto o Jaime e o Filipe estavam a brincar com a bigorna da avó e deixaram-na cair em cima do meu pé, e eu até vi estrelas sem telescópio. O $%#& do boi é que teimava em não surgir no meu campo de visão, portanto, ainda tinha um problema para resolver, aliás, vários; um caderno deles para ser exacto.
Decidi então começar a puxar pela cabeça, o que só trouxe mais dores de cabeça. Desta vez para o Jaime uma vez que lhe puxei pelos cabelos até ficar com uns tufos na mão. Não havia solução.
Até que… Ouço algo que me chama a atenção: “Boiiiii!!!” Corro para a porta e vejo a Pamela aos berros: “Boi! Cornudo!” Esfreguei as mãos de contente. Os meus desejos tinham-se realizado. Qual não foi a minha desilusão, quando vejo que afinal era um senhor que deixava o apartamento da Pam em grande pressa. Pudera! A rapariga estava a precisar de óculos. Ele não era bonito. Mas confundi-lo assim com um ruminante? Voltei para dentro em completo desalento e a avozinha sorrindo perguntou-me com desprezo: “Algum problema?”
“É a matemática… vou ter teste e continuo sem ver boi.”
Então ela volta-se para mim e misteriosamente diz: “Não existe boi”. Tremi perante tal revelação, mas não consegui dizer uma palavra.
“Queres saber a verdade?” Acenei que sim. “Queres mesmo?” Voltei a acenar.
“Então tens aqui dois comprimidos. Um azul e um vermelho. O azul dá-te respostas. O vermelho não sei o que faz. Pode até ser uma anfetamina, um medicamento fora do prazo, ou cianeto. Portanto escolhe.” Como dizem que a verdade por vezes dói, decidi pegar no vermelho, quando a Pam ainda transtornada entrou de rompante, pegou nele e engoliu-o. Fiquei tentado a discutir, mas afinal, precisava mesmo passar no teste e lá tomei o azul. Esperei e esperei, e… fiquei na mesma, parecia que tinha bebido água com gás…
“Este é o primeiro passo para perceberes a matriz. Agora podes resolver exercícios com matrizes n x n, como se fossem contas de somar. Tenho também comprimidos para ajudar a resolver exercícios com determinantes, integrais…”
“Mas ó vó, só vou dar isso daqui a uns anos, a minha dificuldade para já são os números imaginários…” ao que ela responde “Ah, Mostra-me lá…”
Mostrei-lhe um daqueles comboinhos cheios de letras e números e ela virou-se para mim e disse-me: “Isto dos imaginários é simples. Tas a ver este problema? Imagina um número…”
Bufei e bufei de tanto pensar, mas finalmente, um belo e redondo 17 surgiu na minha mente depois de um grupo de sonsitos…
“Já está avozinha…”
“Agora escreve-o e tens o teu resultado”
Brilhante! Pensei eu. Era mais fácil que o que tinha pensado. O problema foi que o professor deve ter imaginado números completamente diferentes dos meus, e como tal, tive zero no teste.
Quando contei à avó dias depois, ela encolheu os ombros e disse:
“Sabes netinho, durante toda a vida há-de ser assim. O problema no ensino é que há muito professor com falta de imaginação.”
Paulo