quinta-feira, julho 20, 2006

Um ano, um mês, alguns dias, horas, minutos,

segundos e outras unidades de tempo

que não sei nomear, depois…

Alvíssaras! O mundo inteiro rejubila: Alvíssaras! Há montes e montes de motivos para festejar. Os cortejos saem à rua, os foguetes estoiram no ar. Há música e alegria – toda a gente a dançar.
No período de um ano, mais coisa menos coisa, nós, os netos, recorrendo às novas tecnologias e a algumas antiquadas, fomos os instrumentos da avozinha na disseminação dos seus sábios ensinamentos. Elucidamos pobres e ricos, gentes das mais variadas classes, das mais burrinhas às mais vivaças e como compensação vamos continuar. Continuaremos a ensinar segundo técnicas avançadas o movimento para um PAFF perfeito, a trajectória exacta para realizar 9.9 em 10 pontos possíveis no lançamento de objectos acutilantes e passíveis de causar danos irreversíveis num ser humano, etc., ou seja, já deu para notar que este será cada vez mais um ponto de paragem imprescindível na navegação neteniana (que é como quem diz “na net”), principalmente por dar a conhecer esse ser maravilhoso, chamado avozinha, nas suas mais fantásticas facetas.
Nós não podemos deixar de partilhar convosco aquelas magníficas tardes em que o sol começava a declinar vermelhinho no céu, e nos deitávamos a dormitar no chão, aconchegados contra cimento duro, aos seus pés, e ela carinhosamente, de tempos a tempos nos mandava cuspidelas nos ouvidos. Outras vezes divertia-se a cuspir nas pessoas lá em baixo. Acordávamos mal ela começava a puxar aquela especturação tipo comboio de mercadorias “arrrrrrrrrrrrr rrruuurrrrrr rrrrrrrrrrrrr gharrrrrrrrrr arrrrrrrrrrsg”, e depois lá lançava a gigantesca minhoca viscosa a flutuar até à cabeça do coitado e infeliz transeunte e depois ria-se, tipo um burro, com espasmos, batendo nas pernas, e por vezes com o cajado nas nossas cabeças, em movimentos completamente involuntários, e nós sorriamos babados, às vezes ainda com aquela langonha a escorrer das orelhas e dos olhos. A dada altura parava de rir, voltava-se para nós e perguntava: “querem que vos conte uma história?”, ao que nós respondíamos abanando convulsivamente a cabeça positivamente ao ponto de ficar com um torcicolos. Então ela começava as suas ternas histórias de embalar, daquelas que eu, o Jaime e o Filipe já vos habituamos.
Para terminar deixo um recado do Filipe que quer só dizer-vos que assim que consiga pronunciar o nome da filha (Carolina, vai-se chamar Carolina, e por fim ficou só Carolina) sem se engasgar, bem como enjoar de comer leite em pó à colherada, voltará a escrever para todos nós.
Quanto a boas notícias, sinceramente não há, mas posso adiantar que isto vai de certeza piorar, se o Berto começar a partilhar as suas memórias, tal como prometeu…
Paulo

sábado, julho 08, 2006

Aniversário

Podia ter sido mais um dia como os outros em que tudo corre normalmente na casa da avó. Bem…, quer dizer…, pelo menos conforme já nos tínhamos habituado, caso não fosse O Dia. Era Dia de festejar um aniversário. Digo um aniversário pois a confusão instalada na altura foi tanta que já nem sei quem é que apagou as velas, quem pediu o desejo, quem comeu o bolo com a cara nem quem levou com a rolha. Levou com a dita rolha pois eu bem tinha dito ao Filipe, ainda me lembro como se tivesse sido ontem, – ouvi dizer que se puseres um dedo por trás ela não salta. Ele bem pôs o dedo mas não sei bem onde, pois a rolha acabou mesmo por saltar. O engraçado é que só vi o Filipe a dar um saltinho, o suficiente para conseguir desviar-se a tempo. O Paulo ainda conseguiu dar-lhe uma cabeçada, indo ter direitinha ao cinzeiro da Pamela, só não tinha é reparado que a rolha vinha com a armação toda. Ainda ficou com as letras Champoomixe gravadas na testa por algum tempo. Prestável como sou, fui logo a correr buscar a rolha para pôr na reciclagem, mas a pressa foi tanta que dei por mim a entalar o pé entre uma fissura do azulejo da cozinha e a cair direitinho com a cara no cinzeiro da Pamela (ou por outras palavras, consegui escorregar numa migalha que se encontrava precisamente no sítio estratégico para levar a cabo o meu plano, que era o de atingir aquela prateleira magnífica. Tst…, tolices.). Até tinha corrido bem caso eu não tivesse aberto a boca, é que a rolha ainda custou uns dias a sair. Para não falar da despesa que foi ao comprar uma sanita nova, devido ao buraco com que ficou resultante da expulsão do raio da rolha. Bem…, mas passando estes pormenores ao lado, a avó tinha finalmente terminado o seu bolo.
- O bolo especial está prontinho, vamos então festejar. Quem traz as velas?
- Eu vou buscar. Disse o Paulo. Onde é que estão!
- Estão aí na gaveta do quarto da avó, disse eu com a voz abafada devido a ter a cara mergulhada noutros assuntos.
- Onde?, não percebi o que dissestes?, há, já as vi.
O Paulo veio então com as velas e colocou-as no bolo, acendendo-as de seguida. Reparamos foi que estas tinham um feitio diferente, eram banhadas de um vermelho vivo e no seu topo pendia um pavio de um preto esquisito, que cada vez mais se afundava. Eram as velas especiais que a avó usava para desentupir os canos. Sabem como é, os pelos vão-se acumulando e acumulando até entupir, e depois começam a enrolar-se pelo ralo e a entrar casa a dentro agarrando-nos pelas pernas. Parece que têm vida. Logo, à que cortar o remédio pela raiz. BUUUMMM neles todos, receita infalível da avozinha.
Era tarde demais para voltar atrás, o rastilho estava a terminar o percurso, vinha aí o dia do juízo final. No entanto, passiva a isto tudo estava quem? A avó, quem mais, rindo-se feito uma perdida já com cataratas nos olhos de tanto rir. BBBUUUMMM, o bolo tinha rebentado. Nós já a ver a nossa alma branquinha a pairar pelo ar, mas não, eram pedaços de bolo que vinham na nossa direcção a toda a velocidade. Era bolo por todos os lados. Ficámos completamente vestidos a rigor de bolo. Olhámos uns para os outros, sem perceber o que se tinha passado. Nisto, a avó vira-se para nós:
- SURPRESA!!!...

Jaime