terça-feira, outubro 25, 2005

Hércules

Era um dia de Sol radioso, em que os pássaros chilreavam baixinho pois o Tózé andava sempre á cuca. Muito gostava ele de os apanhar com a sua pistolinha de chumbos que disparava rolhas de cortiça. Se bem que nunca trazia nenhum para casa. Ao menos nisso era um bom menino. Ele dizia que eram difíceis de apanhar. Tinha que chegar mesmo à beirinha deles. Mas eu dizia-lhe “Porque não tiras o cordel da rolha? Acho que assim ficava mais fácil?”. Ao que ele respondia “Dddaaa, para não perder as balas!!!”.
Finos eram os pássaros em não fazer muito barulho. Imaginem a dor que seria apanhar com uma rolha na peid..., até me vêm as lágrimas aos olhos. Ainda por cima, podiam andar com hemorróidas! Acho que foi assim que apareceram as cristas dos galos. Mas o povo também diz que foi assim que surgiram as famosas uvas colhões-de-galo. Nem quero imaginar como chegaram a tal dedução.
Estávamos muito descansados a ver um documentário na televisão a bobines, que a avó conservava religiosamente muito bem no congelador, acerca da tecnologia nos pólos exteriores das raízes da estratosfera, enquanto esperávamos pelo pequeno-almoço, pois a avó tinha ido caçar uns ovos. Sim, caçar ovos, pois ela vestia sempre um fato justinho, todo malhadinho com umas couves esquisitas desenhadas.
Acho que o documentário tratava de uma tecnologia da guerra-fria. Também não percebo quem é que quer fazer guerra ao frio, ou será para espantar o Inverno?. Mas enfim, para cada tolo sua mania. Entretanto, eis que chegava a avó e virando-se para nós disse:
- Vocês nem imaginam com quem estive?
Pergunto eu muito incrédulo, preparado para todas as respostas possíveis.
- Com quem vó?... Espere ai, … deixe-me adivinhar, com a Pamela. Ela andava outra vez na apanha dos cogumelos?
- Não seu atrevido, deixa-te de pensamentos pecaminosos. Zás,…, um pote com água para a cabeça (daqueles que estão na lareira da cozinha para fazer o caldo). A avó dizia-nos que era para o nosso bem. “Vamos expulsar esse mal que está ai. Com quem ferro bate é porque não tem outra coisa à mão!”, já dizia a avozinha. Só gostava era que de vez em quando atirasse a água, em vez do pote. O raio do ferro dói para caraças. Mas era remédio santo. Os pensamentos lá desapareciam. Não pensávamos em mais nada durante uns minutos. Ás vezes os minutos tornavam-se dias, dependendo do tamanho do pote.
– Estive com aquele moço, o…, aquele que tem um pai que manda raios por um sítio esquisito. O Hemorróidas, … não o Hérpules, não…, não é isso, o Hérputes, não…, o Herpes, o Héracles. Sim isso, o Hércules. Estivemos a conversar um bocadito enquanto estava disfarçada de árvore a caçar os ovitos.
Agora percebíamos o porquê de tantas manchas brancas no fato da avó.
- Quem é esse, Hércules, avó? É algum vizinho novo, ou mais um moedinha cá do bairro? Perguntou o Paulo.
- Conversaram sobre o quê, avó? Perguntava o Filipe.
Nisto a avó dá duas valentes chapadas ao Paulo e ao Filipe. PAFT… (duas vezes), ou seja, quatro ao todo. Tive tempo de contá-las bem, pois parecia que tudo se mexia em câmara lenta. Até havia um som estranho no ar. Tipo quando se põe um disco em baixas rotações.
Deu bem para ver porque é que o Paulo ficou com a boca de lado. Depois teve que usar umas talas para por tudo no sítio, mas correu tudo bem. Apesar de ter doído quando tiverem que lhe espetar os pregos para segurar as talas. Já não se nota nada. Só quando se ri é que se ouve um assobio estúpido, mas a gente entra na onda e até é divertido. Até o convidaram para ir apitar uns jogos de futebol, mas estava sempre a levar com a bola nos tintins.
Mas o que saiu pior tratado foi o Filipe. No momento do episódio, ele estava com a língua pendurada na boca. Nunca mais tinha sido o mesmo desde que o Robim nos deixou. Aqueles dentes bateram com tanta força na língua que esta saltou logo fora. Lá teve a avó que voltar a cosê-la no sítio. Não havia era agulha nem linha. Então lá teve que se improvisar e utilizou-se uma caneta com um atacador preso na ponta. Parecia que estava sempre a babar-se.
- Já vos ensinei a não falarem todos ao mesmo tempo! - Nãaaooo, este é mais mítico. Vocês já devem ter visto o pai dele vir cá a casa. É aquele senhor, de barba grande e branca, que costuma vir cá pedir uma extensão para poder jogar à Paiestação. Não confundam com o que só vem cá uma vez por ano.
- Hhhaaa… (longo), nhão essthou a vher equem seija, bó! Disse o Filipe.
ZÁS, a avó cortou o atacador. Já não dizia mais disparates.
- Já sei. Disse o Paulo muito entusiasmado, pois já sabia qual seria o prémio se conseguisse adivinhar. - É o Zeus. Aquele senhor que gosta muito de caracoletas fritas. Ele dá jeito quando a luz falta em casa. Fica tudo a parecer uma discoteca.
- Isso mesmo meu netinho, toma lá um chuto dos da avó.
PIMBA, em cheio no traseiro do Paulo. Ficou tão vermelho que até dava para fritar os ovos do pequeno-almoço.
- Ups, … enganei-me, queria dizer um charuto.
O Paulo, todo contente, foi logo acender o charuto na lareira. Esqueceu-se foi de tirar os pés. Começou a correr por todo o lado, ás cabeçadas pela mobília toda. Até parecia que tinha lume nos pés. Escusado será dizer que a avó foi logo a correr ajudá-lo. Foi pisando nos seus pés até o perigo passar.
- E o que se passou a seguir, avó? Perguntou o Filipe.
- Foi uma desgraça. Lá vinha ele a cantarolar pelo quintal, com uma pele de leão às costas. Onde já se viu tal audácia. Ainda por cima a pele nem estava curtida nem nada. Eu disse-lhe que o ajudava a curtir a pele, mas não adiantou de nada. Ora punha eu ora punha ele a pele, com uma musiquita e uns copos a ajudar, sempre a curtir, mas ficava sempre na mesma. Tal foi a barafunda que assustamos os pássaros todos e já não pude trazer os ovos para o pequeno-almoço. Ai é que fiquei danada. Tive que colocá-lo de castigo. Ficou por cá a fazer-me uns trabalhitos. Era pouca coisa, acho que eram onze ao todo, pois já me tinha feito um...
O tempo foi passando e os trabalhos foram sendo feitos, até que veio o Sindicato do Olímpo e acabou-se (dia da despedida). A avó com pena por ter que perder um tão bom braço de trabalho, deu-lhe uma mantinha avermelhada, que tinha aparecido lá por casa não se sabe bem como, por causa do frio.
No dia seguinte, lemos no jornal que um sujeito não identificado se tinha atirado a uma das fogueiras do São Pedro e a única coisa que restava dele era uma mantinha avermelhada.
É como diz sempre a avozinha, “Quem com manta seus males adianta!”. Ou seja: “Se tirares a manta dos olhos podes ver o caminho por onde pisas!”.
Jaime

terça-feira, outubro 11, 2005

A Saga Atómica da Avozinha

Episódio III - Os Ficheiros XXX

Estava eu e alguns outros netos da avó a fazer umas pesquisas inofensivas na net (procurávamos na altura, aquele filme famoso de acção, o XXX), quando a avozinha que estava de passagem, reparou naquilo e arrancou logo a ficha da tomada, deu 50 PAFFS na careca do Berto, 30 a mim, 15 ao Jaime, e 12,5 ao Filipe (apanhou-o de raspão numa orelha), tão rapidamente, que demos apenas um AIIIII. Agora os galos são outro assunto. Nasceram todinhos, até o meio galo do Filipe.
O que acontecia, era que ela teve medo que descobríssemos sem querer os seus ficheiros secretos, e ficássemos a saber do seu tortuoso passado: O que tinha feito no Verão Passado, logo após o incidente dos Porcos Espaciais. Para nos acalmar, ela decidiu contar-nos a verdade. Sim A Verdade!
Estava tudo praticamente sanado, ou seja o problema da Baia dos Porcos, quando Roswell passou a constar no mapa. A Área 51, como ficou também conhecida a zona, derivava da queda de 51 corpos estranhos ali no Novo México.
O que se passara, foi que os porcos ao serem lançados no espaço pelos chineses, foram atraídos para a terra e 51 deles caíram ali em Roswell, que significa Rosbife em inglês-americano (sim, também há rosbife de lombo de porco. Experimentem! É daqui!!!), e claro, com os efeitos da entrada na gravidade quando cá chegaram vinham cinzentinhos de todo, quase carbonizados, e mais uma vez foram confundidos com extra-terrestres. Aliás se repararem bem no ET do Spielberg, vão notar que é parecido com um Leitãozito à Bairrada, que foi onde o António nasceu. Com todas as confusões que se geraram, começou a desinformação e contra-informação que já todos sabemos, mas do que os americanos tinham medo, era de alguém que sabia toda a verdade. Eu. E então decidiram caçar-me e apelidaram essa operação de “Caça às Bruxas.” Até hoje ainda não percebi porquê. Esperem só um bocadinho enquanto que eu vou ali mexer o meu caldeir… err… panelão de sopa. Sim sopa, não é uma poção, é o meu caldo de sap...ateira e gafanh… da Gafanha da Nazaré. “HIHIHIHIHIHIHIHIHIHIHIHIH”.
Ora onde ía eu? Já me lembro. Nessa altura, os homens de preto começaram a rondar a minha casa. Não sei se é por se alimentarem dos restos que deito pela janela, mas o que é certo é que os tipos não arredam o pé.
Ora, tendo que trabalhar na clandestinidade, uma loja prós lados da baixa, tornei-me na Garganta Funda e fiz até vários filmes de sucesso, onde revelava tudo. Toda a porcaria, toda a imundice, toda a badalhoquice e pouca-vergonha, que tinham feito comigo, com o Quim, o António e os porcos. Mostrei tudo o que havia por frente e por trás do assunto, sempre com cuidado para ninguém ver que batia com a língua nos dentes (porque afinal já tinha poucos nessa altura).
Foi assim que conheci o Santo Mulder que ainda era novo no assunto e precisava de aprender umas coisas, e eu predispus-me, encontrando-me com ele nas escuras garagens dos prédios.
Nunca me dei foi com a lambisgóia da parceira dele que tinha a mania que era boa. Uma sonsa é o que ela era. E as fotografias que surgiram mais tarde provaram isso mesmo. Ela era mesmo boa.
Tínhamos uma boa relação até ele me mentir. Um dia ele voltou-se para mim e disse-me: “A verdade está lá fora”. Saí a correr pela porta fora, mas depois de muito procurar decidi regressar. Era mentira! A verdade não estava lá. A única coisa que vi foi dois cães a terem um comportamento duvidoso.
Na série seguinte ele desapareceu e meteram lá o exterminador para o substituir. Viu-se logo que era armação, e eu fui obrigada a admitir que o Mulder estava morto (ou pior). Percebi então que ele tinha mentido para me salvar. Um mártir da causa. Um Santo, e tendo-se o Shwarzenneger rendido ao Lado Negro da Força, ou seja, à política, não havia quem pudesse ajudar-me. Ainda o chateei, porque ele até já tinha feito uns filmes comigo, mas nada feito, há quem diga que está tão corrompido, que até é capaz de tentar ficar com o lugar do Imperador.
Como tal cheguei à conclusão óbvia que tinha que fugir. Mexi uns cordelinhos, e apertei-os bem, com duas laçadas tal como vos ensinei a fazer, para que eles não se desapertem, e uma pessoa ao tropeçar neles, bater com a tola no chão e depois é uma porcaria sem igual: miolos e sangue por todo lado...ircccc, que nojo!
Depois foi só correr, inscrevi-me nos 10000 metros disfarçada de homem e ganhei a primeira medalha de ouro para o país e ainda fui a dupla do Tomankas no filme Floresta Gump, na altura em que deixei crescer a barba.
Entretanto, o Presidente que tomou uma medida que fez com que todos se esquecessem de mim… Sabem o que ele fez?
Eu sei! Declarou uma anestesia, disse o Berto…
E ainda levantava a avó o braço para o punir por tal barbaridade e sai-se o Jaime com o seu ar de sabichão:
Ó estúpido, não é anestesia, é amnésia. A avó já desalentada, não conseguiu mais que dar-lhes um pafffffito.
NABOS! É amnistia! O que eles não sabem é que eu coloquei tudo na Internet, todos os filmes com as provas em ficheiros XXX, e por isso são o tipo de ficheiros mais procurados na net.
Portanto, caros leitores, como já dizia muitas vezes a avozinha: A verdade é como as meninas da má vida: Está lá fora e em todas as esquinas!
Paulo