terça-feira, fevereiro 27, 2007

O Super-Homem

Estávamos sentadinhos e aconchegadinhos numa poça de água gelada aos pés da avó, para que ela não os molhasse, quando ela ficou com o olhar apontado para um ponto imaginário no firmamento durante alguns momentos para depois nos perguntar:
“Sabem o que é aquilo ali no céu?” Nenhum de nós via puto então decidimo-nos por atirar ao calhas: “É um pássaro, Vó?” perguntei eu. Logo de seguida o Jaime: “é um avião?”. e por fim o Filipe “Um maremoto?”. E aí, BZZZZZT!!! Para logo de seguida de seguida, ARRRGHHH! Deu-lhe um choque com o seu taser novinho (ela andava doida por experimentá-lo), deixando-o com a língua dormente durante três semanas e a pilinha parece ter Parkinson até aos dias de hoje (ground zero), o que se calhar nem é mau, é pena ele ter que usar talas para a segurar.
“Não! Estúpidos! É o Super-Homem! Quem mais usa roupa tão estúpida?” Replicou finalmente ela.
“A sério Vó?” perguntamos em uníssono, tirando o Filipe que disse: “alhlhélhiu ó?” Mas nesta altura ela já não nos ouvia, saltou por cima de nós, deixando uma impressão do seu pé na minha cara, outra nas costas do Filipe e a impressão do Tommy Lee no traseiro do Jaime (deviam ter visto o sorrisinho na cara dele).
Já sabíamos. Ela ia directa para a Bat (Piiii), vestir o seu Bat (Piii), pegar no seu Bat (Piiii) para ir combater o crime transformada no herói que se assemelha a um morcego, conhecido como: Bat (Piiii)! Desculpem a censura, mas ninguém pode saber a sua identidade secreta.
Nestas alturas nós ficamos agarrados uns aos outros a tremer e a temer por ela. Quando saía assim algo grave se passava. Voltaría para casa? Ou iríamos encontrá-la na morgue, ou no cemitério? É que ela depois de combater o crime gostava de ir jogar cartas com o coveiro, o tipo da mortuária, o gajo da fábrica de salsichas e às vezes com o Mac dos hambúrgueres. No entanto podia ser pior… Podíamos encontrá-la caída num beco qualquer ou numa valeta, a fazer concorrência desleal aos mendigos e inválidos. Já tinha acontecido antes… foi terrível… ganhou balúrdios e foi difícil convencê-la a dar o dinheiro para caridade. Tão difícil que nunca o deu.
O caso desta vez era simples: um marciano estava a fazer sinais com espelhos de casa dele para um familiar cá na Terra, cegando o Super-Homem que por ali passava. Ora, ele desgovernou-se, assumindo uma trajectória de colisão com um bando de andorinhas que estavam em migração para o Sul.
A tragédia era iminente, mas ela chegou a tempo de usar a sua Bat-rede-para-apanha-de-heróis-voadores-desgovernados-carregada-de-kriptonite e impedir a catástrofe, que vistas bem as coisas, não era assim tanta, pois podíamos ter tido passarinhos para o jantar.
Mas, resumindo, como não era Sexta-Feira a avó voltou logo para casa para ver a sua Novela. Aliás, até me espanta ela ter ido pois quando saiu já só faltavam quatro horas, e que nada faça a avó perder a sua Cida-Velha (é o nome da novela), pois fazer uma mulher perder a novela é como meter a boca num tubo de escape a ferver, já dizia a minha avozinha, e não tinha dentes…

Paulo

quinta-feira, fevereiro 15, 2007