quinta-feira, dezembro 28, 2006

Um dia no treino

- Há muitos, muitos anos atrás, quando os continentes ainda estavam todos unidos, …
- Oh avó, isso dos continentes não é quando os velhotes fazem chichi nas calças? Perguntei eu baralhado.
- Não estúpido! Disse o Paulo. Isso é incontinência, seu melão! Continentes é aquele gesto que os tropinhas fazem quando se cruzam uns com os outros.
- Cambada de otários. Retorquiu o Filipe. Então vocês não vêm que é o nome daquele supermercado gigante!
- Seus jumentos! A avó impunha o seu respeito no meio da discórdia. Estão todos errados e não me apetece perder tempo a explicar-vos, se não o caldo ainda se queima. Como estava a dizer, já no muito antigamente quando eu comecei os treinos com o Bruce, não era nada fácil, não. Andar de socas naquela altura não era muito bom presságio. Cada golpe que eu treinava lá ia a soca para o ar. TOC, na testa do Ranger. “- Poças, … que isto aqui parece um Texas!!!” Por isso é que ele fugiu e seguiu a carreira do cinema, os adereços lá doíam bem menos. Depois a outra voava em direcção do Bruce. Ele bem se movia como um tigre, com aqueles reflexos apurados, mas não adiantava de nada. Primeiro tinha que se lamber todo e arranjar as unhas antes de poder fazer qualquer coisa. Típico dos felinos. Depois que não se queixasse. Um certo dia, estava eu no meu aquecimento matinal a esfregar umas pedras, para poder aquecer o leite, mas não dava, a caneca partia-se sempre. Deve ser melhor esfregar uma na outra para ver se o resultado é diferente, pensava eu para os meus botões enquanto dava um pontapé na pedra em demonstração de raiva. Nesse momento uma soca saltou-me do pé indo acertar mesmo em cheio nos ditos cujos do Bruce. Só se ouviu um TUNC no chão. Alguma coisa tinha caído, e não era a minha soca, pois foi-lhe ensinada o efeito boomerang. Vai e volta. Ou seja. Acertou no Bruce, foi e voltou a acertar-lhe outra vez. Só se ouviu uns berros meio efeminados, IAAA… a partir daí sempre que fazia aqueles movimentos coloridos dava esses berros esquisitos. Parece que até ficou famoso por isso e tudo.
- Oh avó… (som de risinhos abafados), o que é isso de ditos cujos? Perguntei eu, feito inocente, a tentar esconder o sorriso de entre os lábios. O Paulo e o Filipe também já estavam todos encharcados. É claro que é impossível enganar a avozinha seja no que for.
- O que é que perguntas-te Jaiminho querido? Então o menino quer saber o que são, é? Ela calçou as suas socas de treino, fez uma pirueta encarpada sobrevoando a minha cabeça, com um mortal invertido para trás e uma cambalhota na diagonal. Claro que isto tudo em câmara lenta para nós apreciarmos melhor. Estranho, era que até do fundo surgia uma música típica das cenas de acção.
- Oh Paulo, desliga lá o rádio que está a distrair-me. Disse a avozinha já meia baralhada. Bem, onde é que eu ia mesmo?
- Estava a acabar de contar a sua aventura avó. Digo eu muito rapidamente para ver se a avó não dava por nada.
- Ah…, já me lembro. Obrigado Jaiminho querido. Estava a dizer… Ah! Pronto! Foi assim que acabou o treino.
Ficamos todos na mesma, sem perceber nada. A avó lá saiu para ir tratar do manjar e nisto… IAAA, a soca da avó tinha-me acertado em cheio nos ditos cujos.
Jaime

sábado, dezembro 09, 2006

Perguntinhas

Perguntei um dia à avozinha porque o céu era azul, e ela pegou no Tommy Lee e CATATUMBAAAAA deu-me com ele na tola. Num outro dia perguntei à avozinha porque havia ondas no mar e ela sorriu para mim e CATRAPIMBAAAA, deu-me com o Tommy Lee de novo na pinha. Mais tarde, nesse mesmo dia, perguntei à avozinha como se formavam as nuvens no céu, ela encolheu os ombros, virou as costas, mas sem que me apercebesse rodopiou rapidamente sobre si mesma, gingou o Tommy Lee e KAPOOOOOOOOWWWWWW acertou-me com tanta força na focinheira, assim tipo entre os dois buraquinhos do nariz, que me arremessou ao longo de todo o corredor de sua casa. O sangue jorrou durante duas ou três horas, e ainda bem que fiquei inconsciente, senão desmaiava – Não suporto sangue.
Percebi então que deviam ser perguntas demasiado pessoais, e eu como criança estúpida que era, tal qual adulto estúpido que me tornei, continuava a importuná-la. Decidi pegar numa chibata e vergastar-me para ser purificado dos meus pecados, entretanto apareceu o Jaime e decidi vergastá-lo antes a ele – senti-me imediatamente melhor, não só porque me senti perdoado, mas porque dei sentido à existência fútil daquele desperdício humano. Agora toda a gente que conheço o vergasta quando tem problemas de consciência. Por exemplo, o Berto não perde uma oportunidade de o fazer pagar pelos seus pecados, apanha-o de costas e ZUUUMBAAA que lá vai disto. Como se não bastasse, usa-o sempre como bode expiatório. Um dia, apanhado em flagrante, até disse à avozinha: Quem estava a espiar as suas conversas era o Jaime, aquele bode! O que eu acho injusto para os bodes, coitadinhos…
Adiante, outro dia qualquer, perguntei a avó como se tinham formado os continentes e oceanos, e claro, estava-se mesmo a ver, uma vez que já tinha aprendido a lição, usei o Jaime como escudo, e o resultado foi tão surpreendente que me senti mal, e lá está, tive que o vergastar para aplacar os meus remorsos. Por falar em aplacar, descobri mais tarde que a formação dos continentes e oceanos tinha qualquer coisa relacionada com as placas tectónicas, o que fez sentido, pois a avó deu cá uma pancada na tectónica do Jaime que ele ficou com um buraco maior que um oceano. Maior até que aquela coisa do filme… é abismal…

Paulo