Histórias de embalar
Certa noite, lembro como se fosse ainda hoje, a avozinha decidiu contar uma história que lhe aconteceu há muito, muito tempo numa aldeia muito, muito distante...
Aconchegou-me a mim e aos outros netos, o Paulo e Jaime, os três na sua cama. Lembro-me que o Jaime era o tipo de pessoa que sofria de incontinência crónica e urinava frequentemente na cama, mas até não me importava muito, pois fazia frio e aquele líquido amarelado até era bem-vindo pois aquecia ao ponto de fazer suar.
A avozinha sentou-se então no seu velho cadeirão feito de palha. Cadeirão esse, que balançava para a frente e para trás fazendo um lamento que mais parecia o grito de almas penadas. Muitas vezes adormecemos ao som de embalar do velho cadeirão! A figura imponente da avozinha sentada no seu cadeirão impunha respeito, ela parecia que se fundia com ele, pois a gordura gelatinosa que lhe era característica na época derretia-se alegremente por ele abaixo. Ela usava o seu longo bastão de apoio como alavanca para se baloiçar para a frente e para trás ao som do cadeirão: aaarghhh! Ouuuuouuuuo! Aaaaaaahhhhh! DOR, OH DOR! Gritava ele.
E ali estávamos nós, os três netinhos favoritos de olhos vidrados na nossa querida avozinha, éramos só nós, ela e o seu bastão, que usava na nossa cabeça quando começávamos a adormecer. Obviamente que o usa de forma gentil e cuidadosa, a avozinha quase nunca o usava com os pregos virados para baixo.
Estávamos então prestes a ouvir mais uma das histórias verdadeiras e únicas da avozinha. A sua voz melodiosa de dobradiça mal oleada começou então:
“Era uma vez há muito, muito tempo atrás nos tempos da minha juventude, quando os animais ainda falavam, estava eu nesta casinha a lavar o chão com as minhas cuecas...”
“Posso ir à casa de b…” Interrompe o Paulo e… PAFF! – Responde rapidamente o bastão da avó na cabeça dele, dizendo ainda PAF!! PAF!! PAF!! PAF!! - Para ter a certeza que não voltaria a interromper. “Mas avozinha tou com diarreia!” PAF!! PAF!! “Mas...” PAF!! “Não..” PAF!! “Ai…” PAF!! “Sim…” PAF!! “Não…” PAF!!
Parecia uma música rap. Ao fim de 20 minutos ele calou-se, não sei se das pauladas ou do cheiro nauseabundo da diarreia que entretanto se tinha espalhada pelos lençóis e misturado com a urina do Jaime provocando uma toxina letal e corrosiva que foi gradualmente derretendo o colchão e o meu próprio pé. Fazia-me lembrar os deliciosos sumos de limão que a avozinha sempre nos preparou com os limões que ela usava para limpar as colheres.
“Como estava a dizer, eu trabalhava muito para a minha madrasta e para as minhas 3 irmãs e também para aqueles simpáticos sete anões aaahhh…” Suspirou, “os sete anões…”.
Cada vez que a avozinha falava naqueles malditos anões ela fixava estranhamente o infinito, batia os maxilares uns nos outros parecendo castanholas. Não sei como fazia tanto barulho, afinal não tinha dentes. Meia hora depois regressou daquele estranho transe quase extático, e continuou:
“…quando ouvi vindo do alto do sótão três leves pancadinhas que abanaram as estruturas da casa: BOOM BOOM BOOM!! Levantei-me agilmente e digo agilmente pois já tinha sido operada ao meu joelho. Puseram-me um joelho clonado de uma ovelha, que até funcionava muito bem. E fui ver o que se passava. Levantei devagarinho a portinhola e espreitei com o meu olho bom.
Uma senhora linda de fato de banho vermelho com uma tatuagem a dizer Tommy Lee Beat-Me! Esperava por mim sentada no meu velho baú que continha todas as minhas posses: um dedal, uma caderneta de cromos do He-Man e o meu fato de Bat…, a Spank-Girl super-heroína! Falo-vos disso noutro dia.
Entrei no sótão de bastão em punho (sim, aquele lindo bastão já a acompanhava) e perguntei: Quem és tu? O que fazes aqui? Calma, respondeu a jovem, eu sou a tua Fada Madrinha.
Desconfiada, porque gostava daquele fato de banho vermelho, e como o meu bastão se chama Tommy Lee, dei-lhe com ele na cabeça. PAF!! PAF!! PAF!! PAF!! PAF!! PAF!! PAF!! PAF!! PAF!! e PAF!! Calma, calma, eu sou a tua Fada PAF!! Madrinha. Olha para o meu cartão de sócia. O cartão dizia Pamela Anderson: Playmate, nadadora salvadora e fada madrinha em part-time.
Acreditei imediatamente nela. Desculpa Fada Madrinha! Desculpa, não passo de uma miserável lavadora-de-chão-heroina-em-part-time-fumadora-de-hahatchim.
Não faz mal minha querida, respondeu ela. Venho realizar-te três desejos. Diz-me o que queres.
Então eu pensei, pensei e pensei e lembrei-me do que mais queria:
O meu primeiro desejo é casar-me com o meu amado, o homem-ovo, o meu querido Riqegg Lesias.
E assim foi, ela casou-se com o Riqegg Lesias, o homem-ovo. Foram muito felizes até ao dia em que tinha muita fome e rachou-o com o bastão Tommy Lee para fazer uma deliciosa omoleta. A avozinha nunca sabe se é delicioso ou não pois certo dia ao abrir uma garrafa de vinho com a boca, ficou com a rolha presa a apodrecer lentamente na cavidade bocal. Por isso tudo lhe sabe a cortiça.
O meu segundo desejo é: quero que os meus dois joelhos fiquem bons. De imediato ficou com ambos os joelhos clonados de ovelha.
O meu terceiro dejes...
“Avozinha, tenho fome!” – Interrompeu o Jaime, e PAF!! Comeu logo!!
O meu terceiro desejo é...é......... e nunca mais se decidiu.
A Pamela esperou sentada durante muitos anos em cima do velho baú no sótão da avozinha, até que a avozinha se mudou, e ela alugou o apartamento do lado, onde ainda espera que a avozinha se decida.
Assim são as velhas histórias da avozinha. Alegres ou não, mas sempre genuínas. Quando ela acabou, todos estávamos a lutar contra o sono porque o Tommy Lee estava eternamente vigilante, mesmo com o cheiro nauseabundo que se espalhava debaixo da cama. A avozinha levantou-se do cadeirão, béééééé, fizeram os joelhos, aproximou-se de cada um de nós e com o seu hálito mortal, envolvido por moscas e aquela famosa sandes de atum de 1815, beijou-nos carinhosamente os galos da testa e deixou-nos adormecer em paz.
O moral da história é que fada que é fada dá e não pede nada… ou qualquer coisa do género
Aconchegou-me a mim e aos outros netos, o Paulo e Jaime, os três na sua cama. Lembro-me que o Jaime era o tipo de pessoa que sofria de incontinência crónica e urinava frequentemente na cama, mas até não me importava muito, pois fazia frio e aquele líquido amarelado até era bem-vindo pois aquecia ao ponto de fazer suar.
A avozinha sentou-se então no seu velho cadeirão feito de palha. Cadeirão esse, que balançava para a frente e para trás fazendo um lamento que mais parecia o grito de almas penadas. Muitas vezes adormecemos ao som de embalar do velho cadeirão! A figura imponente da avozinha sentada no seu cadeirão impunha respeito, ela parecia que se fundia com ele, pois a gordura gelatinosa que lhe era característica na época derretia-se alegremente por ele abaixo. Ela usava o seu longo bastão de apoio como alavanca para se baloiçar para a frente e para trás ao som do cadeirão: aaarghhh! Ouuuuouuuuo! Aaaaaaahhhhh! DOR, OH DOR! Gritava ele.
E ali estávamos nós, os três netinhos favoritos de olhos vidrados na nossa querida avozinha, éramos só nós, ela e o seu bastão, que usava na nossa cabeça quando começávamos a adormecer. Obviamente que o usa de forma gentil e cuidadosa, a avozinha quase nunca o usava com os pregos virados para baixo.
Estávamos então prestes a ouvir mais uma das histórias verdadeiras e únicas da avozinha. A sua voz melodiosa de dobradiça mal oleada começou então:
“Era uma vez há muito, muito tempo atrás nos tempos da minha juventude, quando os animais ainda falavam, estava eu nesta casinha a lavar o chão com as minhas cuecas...”
“Posso ir à casa de b…” Interrompe o Paulo e… PAFF! – Responde rapidamente o bastão da avó na cabeça dele, dizendo ainda PAF!! PAF!! PAF!! PAF!! - Para ter a certeza que não voltaria a interromper. “Mas avozinha tou com diarreia!” PAF!! PAF!! “Mas...” PAF!! “Não..” PAF!! “Ai…” PAF!! “Sim…” PAF!! “Não…” PAF!!
Parecia uma música rap. Ao fim de 20 minutos ele calou-se, não sei se das pauladas ou do cheiro nauseabundo da diarreia que entretanto se tinha espalhada pelos lençóis e misturado com a urina do Jaime provocando uma toxina letal e corrosiva que foi gradualmente derretendo o colchão e o meu próprio pé. Fazia-me lembrar os deliciosos sumos de limão que a avozinha sempre nos preparou com os limões que ela usava para limpar as colheres.
“Como estava a dizer, eu trabalhava muito para a minha madrasta e para as minhas 3 irmãs e também para aqueles simpáticos sete anões aaahhh…” Suspirou, “os sete anões…”.
Cada vez que a avozinha falava naqueles malditos anões ela fixava estranhamente o infinito, batia os maxilares uns nos outros parecendo castanholas. Não sei como fazia tanto barulho, afinal não tinha dentes. Meia hora depois regressou daquele estranho transe quase extático, e continuou:
“…quando ouvi vindo do alto do sótão três leves pancadinhas que abanaram as estruturas da casa: BOOM BOOM BOOM!! Levantei-me agilmente e digo agilmente pois já tinha sido operada ao meu joelho. Puseram-me um joelho clonado de uma ovelha, que até funcionava muito bem. E fui ver o que se passava. Levantei devagarinho a portinhola e espreitei com o meu olho bom.
Uma senhora linda de fato de banho vermelho com uma tatuagem a dizer Tommy Lee Beat-Me! Esperava por mim sentada no meu velho baú que continha todas as minhas posses: um dedal, uma caderneta de cromos do He-Man e o meu fato de Bat…, a Spank-Girl super-heroína! Falo-vos disso noutro dia.
Entrei no sótão de bastão em punho (sim, aquele lindo bastão já a acompanhava) e perguntei: Quem és tu? O que fazes aqui? Calma, respondeu a jovem, eu sou a tua Fada Madrinha.
Desconfiada, porque gostava daquele fato de banho vermelho, e como o meu bastão se chama Tommy Lee, dei-lhe com ele na cabeça. PAF!! PAF!! PAF!! PAF!! PAF!! PAF!! PAF!! PAF!! PAF!! e PAF!! Calma, calma, eu sou a tua Fada PAF!! Madrinha. Olha para o meu cartão de sócia. O cartão dizia Pamela Anderson: Playmate, nadadora salvadora e fada madrinha em part-time.
Acreditei imediatamente nela. Desculpa Fada Madrinha! Desculpa, não passo de uma miserável lavadora-de-chão-heroina-em-part-time-fumadora-de-hahatchim.
Não faz mal minha querida, respondeu ela. Venho realizar-te três desejos. Diz-me o que queres.
Então eu pensei, pensei e pensei e lembrei-me do que mais queria:
O meu primeiro desejo é casar-me com o meu amado, o homem-ovo, o meu querido Riqegg Lesias.
E assim foi, ela casou-se com o Riqegg Lesias, o homem-ovo. Foram muito felizes até ao dia em que tinha muita fome e rachou-o com o bastão Tommy Lee para fazer uma deliciosa omoleta. A avozinha nunca sabe se é delicioso ou não pois certo dia ao abrir uma garrafa de vinho com a boca, ficou com a rolha presa a apodrecer lentamente na cavidade bocal. Por isso tudo lhe sabe a cortiça.
O meu segundo desejo é: quero que os meus dois joelhos fiquem bons. De imediato ficou com ambos os joelhos clonados de ovelha.
O meu terceiro dejes...
“Avozinha, tenho fome!” – Interrompeu o Jaime, e PAF!! Comeu logo!!
O meu terceiro desejo é...é......... e nunca mais se decidiu.
A Pamela esperou sentada durante muitos anos em cima do velho baú no sótão da avozinha, até que a avozinha se mudou, e ela alugou o apartamento do lado, onde ainda espera que a avozinha se decida.
Assim são as velhas histórias da avozinha. Alegres ou não, mas sempre genuínas. Quando ela acabou, todos estávamos a lutar contra o sono porque o Tommy Lee estava eternamente vigilante, mesmo com o cheiro nauseabundo que se espalhava debaixo da cama. A avozinha levantou-se do cadeirão, béééééé, fizeram os joelhos, aproximou-se de cada um de nós e com o seu hálito mortal, envolvido por moscas e aquela famosa sandes de atum de 1815, beijou-nos carinhosamente os galos da testa e deixou-nos adormecer em paz.
O moral da história é que fada que é fada dá e não pede nada… ou qualquer coisa do género
Filipe