Ano Novo: Festa é Festa
Nós sempre adoramos passar de ano com a avó. A ideia de queimar umas bruxas na fogueira, empalar uns vizinhos, jogar ao pau com os ursos, exorcizar demónios, enfim, fazer essas brincadeiras tradicionais de baile de fim de ano, deixa-nos sempre excitados como uma cadela no cio.
A avó passava a última semana do ano a alimentar-nos à base de feijão e grão para que no dia 31 tivéssemos o melhor fogo de artifício do bairro. Claro que ela não exagerava, pois sabia perfeitamente que uma colher a mais podia bem significar uma explosão Antónia, e ela não estava numa de Setar Whores, e passar de 3 para 6 episódios de Saga Atómica, num espaço de quarenta anos.
Mas voltando ao que interessa, nessa noite o melhor era entrar no comboiinho e acompanhar cantoria:
Alala ô, ôuô, ôuô, ai qui calô, ôuô, ôuô…
Brigiti Barbô Barbô, e ainda o célebre: Eeeeeiiiiii meu amigo xarli bráun.
Cantávamos todos certinhos com a Pamela a tocar no pandeiro, o Filipe nas duas maracas e o Jaime no reco-reco.
Havia espaço para também para o Bamboléô, Bamboléô, porca mi vita, nunca bibi um binhito ássi… ou fazendo variações para o Cume bai á, ó Cume bai á…
No final dava-se lugar a canções mais calmas como 99 garrafas de cerveja na parede (muitas iam para o chão ou para o tecto), ou o wiski na jarra das flores, embora o Berto gostasse mais de pôr no aquário, o que deixava as piranhas e os crocodilos da avó todos malucos a abocanharem-se uns aos outros.
Nos últimos anos já tínhamos “mais música nova”, chegando a tocar “5 de seguida” ou “3 sem tirar” (ou seria 3 sem parar?), com melodias fatelas e parolas como o: Festa é festa manu-manu-mané, numa-numa-numané…
Mas como dizia quando comecei, nós gostávamos de passar de ano com a avó. Começávamos com uma musiquita e tal, corríamos o baile, bebíamos uns shots de tequilla, e outras bebidas leves, e por fim, lá vinha a taça de champanhe e obviamente as 12 passas para a consumação.
E a cada passa, o novo ano aproximava-se, quando chegávamos à 8ª já o víamos a acenar e na 12ª, o dito caía-nos em cima como uma bomba. E alguns estoiravam mesmo, e depois era ver as serpentinhas no ar (eram mesmo cobrinhas pintadas de várias cores e não aquelas foleirices de papel), buzinas a tocar, os rabos a estourar como foguetes, alarmes de carros e lojas a serem assaltados, etc.
O novo ano estava ali a entrar a toda a força pela madrugada dentro, em todo o seu esplendor, e embora ninguém conseguisse dizer o que trazia de novo, todos sentiam aquela ressaca monumental…
É como dizia a avozinha já no seu belo estado avançado de alcoolemia, antes de cair de cara no chão: ano novo é como um copo de vinho a martelo, de inicio custa a engolir, mas depois de uns tantos… que se lixe, venha o próximo…
Paulo
A avó passava a última semana do ano a alimentar-nos à base de feijão e grão para que no dia 31 tivéssemos o melhor fogo de artifício do bairro. Claro que ela não exagerava, pois sabia perfeitamente que uma colher a mais podia bem significar uma explosão Antónia, e ela não estava numa de Setar Whores, e passar de 3 para 6 episódios de Saga Atómica, num espaço de quarenta anos.
Mas voltando ao que interessa, nessa noite o melhor era entrar no comboiinho e acompanhar cantoria:
Alala ô, ôuô, ôuô, ai qui calô, ôuô, ôuô…
Brigiti Barbô Barbô, e ainda o célebre: Eeeeeiiiiii meu amigo xarli bráun.
Cantávamos todos certinhos com a Pamela a tocar no pandeiro, o Filipe nas duas maracas e o Jaime no reco-reco.
Havia espaço para também para o Bamboléô, Bamboléô, porca mi vita, nunca bibi um binhito ássi… ou fazendo variações para o Cume bai á, ó Cume bai á…
No final dava-se lugar a canções mais calmas como 99 garrafas de cerveja na parede (muitas iam para o chão ou para o tecto), ou o wiski na jarra das flores, embora o Berto gostasse mais de pôr no aquário, o que deixava as piranhas e os crocodilos da avó todos malucos a abocanharem-se uns aos outros.
Nos últimos anos já tínhamos “mais música nova”, chegando a tocar “5 de seguida” ou “3 sem tirar” (ou seria 3 sem parar?), com melodias fatelas e parolas como o: Festa é festa manu-manu-mané, numa-numa-numané…
Mas como dizia quando comecei, nós gostávamos de passar de ano com a avó. Começávamos com uma musiquita e tal, corríamos o baile, bebíamos uns shots de tequilla, e outras bebidas leves, e por fim, lá vinha a taça de champanhe e obviamente as 12 passas para a consumação.
E a cada passa, o novo ano aproximava-se, quando chegávamos à 8ª já o víamos a acenar e na 12ª, o dito caía-nos em cima como uma bomba. E alguns estoiravam mesmo, e depois era ver as serpentinhas no ar (eram mesmo cobrinhas pintadas de várias cores e não aquelas foleirices de papel), buzinas a tocar, os rabos a estourar como foguetes, alarmes de carros e lojas a serem assaltados, etc.
O novo ano estava ali a entrar a toda a força pela madrugada dentro, em todo o seu esplendor, e embora ninguém conseguisse dizer o que trazia de novo, todos sentiam aquela ressaca monumental…
É como dizia a avozinha já no seu belo estado avançado de alcoolemia, antes de cair de cara no chão: ano novo é como um copo de vinho a martelo, de inicio custa a engolir, mas depois de uns tantos… que se lixe, venha o próximo…
Paulo