sexta-feira, dezembro 30, 2005

Ano Novo: Festa é Festa

Nós sempre adoramos passar de ano com a avó. A ideia de queimar umas bruxas na fogueira, empalar uns vizinhos, jogar ao pau com os ursos, exorcizar demónios, enfim, fazer essas brincadeiras tradicionais de baile de fim de ano, deixa-nos sempre excitados como uma cadela no cio.
A avó passava a última semana do ano a alimentar-nos à base de feijão e grão para que no dia 31 tivéssemos o melhor fogo de artifício do bairro. Claro que ela não exagerava, pois sabia perfeitamente que uma colher a mais podia bem significar uma explosão Antónia, e ela não estava numa de Setar Whores, e passar de 3 para 6 episódios de Saga Atómica, num espaço de quarenta anos.
Mas voltando ao que interessa, nessa noite o melhor era entrar no comboiinho e acompanhar cantoria:
Alala ô, ôuô, ôuô, ai qui calô, ôuô, ôuô…
Brigiti Barbô Barbô, e ainda o célebre: Eeeeeiiiiii meu amigo xarli bráun.
Cantávamos todos certinhos com a Pamela a tocar no pandeiro, o Filipe nas duas maracas e o Jaime no reco-reco.
Havia espaço para também para o Bamboléô, Bamboléô, porca mi vita, nunca bibi um binhito ássi… ou fazendo variações para o Cume bai á, ó Cume bai á…
No final dava-se lugar a canções mais calmas como 99 garrafas de cerveja na parede (muitas iam para o chão ou para o tecto), ou o wiski na jarra das flores, embora o Berto gostasse mais de pôr no aquário, o que deixava as piranhas e os crocodilos da avó todos malucos a abocanharem-se uns aos outros.
Nos últimos anos já tínhamos “mais música nova”, chegando a tocar “5 de seguida” ou “3 sem tirar” (ou seria 3 sem parar?), com melodias fatelas e parolas como o: Festa é festa manu-manu-mané, numa-numa-numané…
Mas como dizia quando comecei, nós gostávamos de passar de ano com a avó. Começávamos com uma musiquita e tal, corríamos o baile, bebíamos uns shots de tequilla, e outras bebidas leves, e por fim, lá vinha a taça de champanhe e obviamente as 12 passas para a consumação.
E a cada passa, o novo ano aproximava-se, quando chegávamos à 8ª já o víamos a acenar e na 12ª, o dito caía-nos em cima como uma bomba. E alguns estoiravam mesmo, e depois era ver as serpentinhas no ar (eram mesmo cobrinhas pintadas de várias cores e não aquelas foleirices de papel), buzinas a tocar, os rabos a estourar como foguetes, alarmes de carros e lojas a serem assaltados, etc.
O novo ano estava ali a entrar a toda a força pela madrugada dentro, em todo o seu esplendor, e embora ninguém conseguisse dizer o que trazia de novo, todos sentiam aquela ressaca monumental…
É como dizia a avozinha já no seu belo estado avançado de alcoolemia, antes de cair de cara no chão: ano novo é como um copo de vinho a martelo, de inicio custa a engolir, mas depois de uns tantos… que se lixe, venha o próximo…

Paulo

quinta-feira, dezembro 22, 2005

Quem são os netos da avó?

Pernil do Neto Paulo

Paulo é o mais velho neto da avó, que tem 80 anos ou mais, a avó, claro. Ele tem… bem é mais novito… não que seja uma criança, apesar de nos seus desportos favoritos estarem incluídos mamar e fazer birras por tudo e por nada.
Correm rumores em sua casa (onde por vezes o reconhecem) que é virgem, embora o seu mês de nascimento ser lá para o final do ano. Tão no final que às vezes nem faz anos, porque já não há tempo…
A única coisa que criou na sua vida foram fungos, mais propriamente pé de atleta, mas em breve mesmo esses o abandonaram pois não suportavam a inércia…
O seu maior feito, se bem que não lhe pode ser atribuído, é ser neto da Avozinha. Para pagar tamanha honra (algo que nunca conseguirá) tenta perpetuar e espalhar os seus ensinamentos quase como um apóstolo, mas muito fraquiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiinho…
Tirando isso, nunca fez nada de especial ou notável, excepto… nahh… não fez mesmo nada de jeito…
Resumindo, é um parvo e um imprestável…

Costela do Neto Jaime

Jaime, mais um pretendente à famosa herança da Avó. Não a monetária, pois essa não iria passar de uns míseros dobrões de ouro que estão para lá, deixados ao esquecimento em qualquer baú velho e carcomido, mas sim a de contador de histórias. Pode dizer-se que é o neto do meio, não pela idade, mas sim pela tendência de ficar sempre no meio da cama. Onde geralmente fica a Virtude, uma vizinha antiga.
Sempre gostou daquelas côdeas que a avó tanto guarda religiosamente no seu avental. Sempre dava para dividir entre os outros netos, e aproveitar os restos de vinho para uma última ceia.
Podemos dizer que servia muitas vezes de amparo à avó, quando esta brandia o seu cajado em forma de chamar a atenção. Nenhum feito especial, nada de extraordinário para um neto da avó. Simplesmente estava lá quando era preciso, o que raramente acontecia, e quando acontecia, era como quando o diabo esfrega o olho... devagariiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiinho.
Resumindo, é um idiota e um trapalhão…

Rim do Neto Filipe

Filipe, o mais preguiçoso dos netos da avó…
É fácil distingui-lo de entre os netos todos da Avó. Tem umas certas parecenças com um antigo gato que ela tinha, quando éramos novos. Claro que o gato, Garefielly, não tinha ainda as unhas afiadas e há algo nele, talvez relacionado com a forma como a luz é refractada ao tocá-lo que acentua a semelhança, bem como o gosto pela sua sonecazinha.
Tão preguiçoso que se acha que ele não nasceu, e foi sim plantado. Talvez tenha mesmo sido fruto de uma experiência da avó, mas uma muito falhadiiiiiiiiiiiinha…
A única coisa para que serviu, foi de almofada quando a avozinha se precisava de sentar em algum lugar, talvez por isso, fosse o que estava sempre mais perto dela. Estava como todos os outros sempre lá para dar o seu apoio. A maior parte das vezes era contra vontade, mas não é fácil dizer não ao Cajado.
Resumindo é um dorminhoco e um lentinho…

segunda-feira, dezembro 12, 2005

Natal Espirituoso

Como sempre se repete todos os anos, eis que chega a época de alegria e de mais umas descobertas macabras. A época Natalícia que é quando se mata o Bacalhau e se demolha o Peru. Nós, os netinhos, apresentamos para todos vocês o que era o Natal, nos tempos da avó.
- Queres começar Filipe?
- zzzzzzzzzzzzzZZZZZZZZZZZZZZZZZZZzzzzzzzzzz
- Bem, adormeceu, que tal começares tu Jaime?
- Vamos lá então antes que o Natal passe e nós sem história para contar. A avó tinha-nos sempre habituado ao seu já famoso peru recheado com os miúdos. Mas a verdade é que já não era a mesma coisa. Já não havia muitos miúdos pelo bairro. Desde aqueles dois pirralhos que resolveram cruzar-se na porta da avó, uns tais de Hanselmo e Grettela, que tem sido difícil encontrar um bom recheio. Mas se bem que graças às migalhas que os putos deixaram ela inventou o Bacalhau com Broa. Mas mesmo assim, a dita receita não deixou de ser um manjar dos deuses. Ainda por cima, a avó tinha uma maneira peculiar de fazer os seus cozinhados. Para não falar no seu caldeirão e a sua enorme colher de pau. Ela conseguia rechear o peru, como nunca vi até hoje. É certo que se o matasse primeiro seria bem mais fácil. Mas acredito que lhe tiraria o gozo todo ao seu desporto. Ainda me lembro, como se fosse ontem, daquelas grandes olheiras arregaladas de entusiasmo ao praticar tal ritual.
Depois era a hora da matança do bacalhau. Lá íamos nós para o tanquesito à sua procura. Não se devia tratar de um animal muito inteligente, era facilmente distinguível pela sua barbatana. Não devia ter muito sucesso no seu habitat. Fraco disfarce.
Mas lembras-te Paulo? A melhor parte era ver a avó pegar no seu bataran…, quero dizer, no seu batarpão e ZÁS… em cheio na tua perna, e como tu berravas:
- Aaahhh… fo#$%... dor… me&#$, … muita dor avó…, acho que vou desma…
- Está quieto ou só comes em sonhos. – Respondia ela. - Deixa a avó apanhar o peixe. Não se preocupem netinhos, é sempre preciso um bom chamariz para o bacalhau. E não há nada melhor que sangue fresquinho para o atrair!
Só me lembro dos teus olhos, Paulo, a revirarem-se todos e de ver-te cair para o lado. Tinhas sorte em cair para o lado certo, se não batidas com a cabeça no chão. Ao menos sempre caías na água, onde era mais mole. Uma coisa era certa, o método de caça era infalível. Dizia ela com o seu ar muito prazenteiro, a babar-se toda como um bebé, “Assim é que se apanham dois coelhos numa batarda só…”.
E lá íamos nós para a cozinha com a avó, depois de tão atribulada tarde. A fome já batia à porta. O Filipe ía ver sempre, e como tal levava uma castanhada, da avó, na cabeça. Tinha sorte, pois era o que tinha entretanto à mão. Se fosse um bocado mais tarde levava com o cutelo para aprender. “Ai…, menino mau comportado! Quem mandou abrir a porta? Ainda por cima traz uma corrente fria. Leva já a corrente para fora de casa. Não quero ver bricabraques desses à mesa.”
Devia ter saudades do Robim, pois de vez em quando andava com a corrente que o levava a passear.
- Mas lembras-te Jaime? A Pamela gostava muito era do bacalhau na pipa. Lá virava ela a pipa, enfiava o bacalhau e pronto, ficava toda contente até se lhe vinha um sorriso de contentamento, e era assim a época de Natal toda. O Filipe desde que provou o bacalhau da Pamela nunca mais quis outra coisa, dizia que o peru da avó nem perto lhe chegava, não era tão tenrinho, nem tão bom aspecto tinha. Dizia mesmo que o bacalhau da Pamela era mais suculento.
Mas no final toda a gente repartia e ficava satisfeita com o Perú da Avó e o Bacalhau da Pamela, mas se não chegasse, comia-se com o Tommy Lee, e havia quem gostasse, e até dissesse que o Tommy Lee tinha um sabor especial nessa época, embora o preferissem bem regado com azeite.
E por falar em Tommy Lee, lembro-me também das rabanadas da avó. Era cada uma… KAPOWWWW!
O Natal com a avó era sempre uma ocasião em que coisas fantásticas aconteciam. O Pai Natal descia pela chaminé e deixava prendinhas, embora na realidade não houvesse chaminé, e sim o tubo do ar condicionado, onde ele ficava entalado muitas vezes.
A avó contava muita vez, basicamente todos os Natais, que esta tradição começara quando o seu amigo Nicolau, que era muito rico, decidira pela primeira vez, ainda ela era menina e moça, estamos a falar mais ou menos do Século III, distribuir prendas. Tudo começou com as filhas do vizinho do lado, que ele sabia serem bastante necessitadas, e ele atento a esse facto, entrou-lhes pelas traseiras e deu-lhes.
Mais tarde decidiu distribuir por todas as pessoas da cidade. Para não ser reconhecido, disfarçava-se, vestindo-se de verde, e com grandes barbas, na altura ainda não tinha assinado com aquela empresa que vende coca com cola (vá-se lá saber porquê) e portanto ainda não vestia de vermelho.
Com a expansão do negócio, fez-se à rua pedindo ajuda à avó para puxar o seu trenó, disfarçada de veado. Fazia tanto frio que a avó ficou com o nariz tão vermelho que brilhava de tal forma que parecia quase uma lâmpada. Na altura os populares apelidaram-na de Rudolphius, não sei se era pelo bigode farfalhudo que ela usava, ou porque lá naquela terra significava aquele que brilha no escuro pois parece que tem uma lâmpada no nariz.
Como o Nicolau não tinha possibilidade de visitar todas as casas ia atirando as prendas pelas chaminés, o que no início não deu muito resultado pois queimavam todas, o que o obrigou a espreitar primeiro, até que um dia escorregou e só parou com o rabito nas brasas, deixou cair as prendas e saiu logo a voar por onde tinha vindo gritando: AU! AU! AU! O que muita gente pensou ser uma risada eram os gritos de dor do pobre coitado de rabo queimado. E com a evolução do folclore passou a ser conhecido pelo célebre HO! HO! HO! que ele mais tarde começou de facto a usar.
A avó entretanto teve que desistir dessas lides pois nessa altura do ano havia muito crime e alguém tinha que o combater. O Nico, lá teve que contratar veados a sério, que mais tarde descobriu serem renas, com um novo Rudolph a quem ele atarraxou uma lâmpada no nariz para passar pela avozinha e com sucesso, pois diziam mesmo que a fama só lhe fizera bem, estando agora bem mais bonito.
O Nicolau como sinal de agradecimento por tudo o que a avozinha fizera por ele ao longo dos anos, passava sempre em primeiro pela casa dela, e assim nós pudemos conhecê-lo em pessoa e receber os presentes que ele trazia em mão.
Outros que também apareciam por lá eram alguns fantasmas, mais propriamente o do passado, presente e futuro, mas não levavam nada, e como tal também não tinham direito ao manjar.
Para terminar, só faltava falarmos das canções tipo Dust in the Wind que a avó cantava sempre acompanhada da sua guitarra folk no colo, bem como outras canções típicas, tais como, Mr. Tambourine Man, e um clássico favorito que ela adorava que era o Starway to Heaven, que nós acompanhávamos palavra por palavra e tique por tique enquanto dávamos umas cachimbadas e víamos os elefantes cor-de-rosa e tartarugas ninja.
Era tudo mágico nessa altura, até quando a Pamela saltava do bolo, parecia ser sempre a primeira vez…
- Pois é Paulo, eram assim as nossas ceias à mesa do Natal. A avó acabava sempre com uns valentes arrotos e uns bons fogos de artifício, para festejar. Era o resultado da mistura das couves com o bacalhau. A avó chamava-lhe de Calhau. “Vamos lá então fumar um calhau…”, dizia ela mortinha por nos surpreender. E ficávamos mesmo sem palavras, tal a capacidade de retenção de ar rarefeito que avó conseguia libertar pela casa. Era de ficar com os cabelos no pé, tal a potência do calhau. Ao menos a lareira nunca se apagava. O mesmo não se podia dizer dos cortinados de casa. Ardiam como tochas cheias de gasolina. Que espectáculo! (suspiro de saudades).
- Por falar em espectáculo, lembras-te de quando o Berto pegou fogo à Árvore de Natal?
- Então não me lembro? Fez birra que não queria o Bacalhau, mas foi daí que veio a ideia de iluminar as árvores com luzinhas. Ah bons tempos…
- Pois, quando se usavam as peúgas e as cuecas com os selos como enfeites, não eram Filipe? Filipe?!?
- zzzzzzzzzzzzZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZzzzz (assobio), RRRONC…
- Parece que continua na sorna…
- Deixa lá Jaime, com certeza está a sonhar com esses tempos, e que belos Natais eram… Ai, Ai…, antes de chegarem os extra-terrestres e aumentarem os impostos e a gasolina, que belos tempos eram, já dizia a avozinha…

segunda-feira, novembro 28, 2005

Matemática

Certo dia andava eu preocupado pois ia ter mais um malfadado teste de matemática, e como sempre não via boi. Bem procurei, mas boi, népia. Aliás estava tanto calor naquela altura que até as moscas que deviam indicar onde andava o bicho estavam sentadas nas bordas dos alguidares com as patitas de molho. Ainda espreitei lá para dentro, vi hipopótamos mergulhados, mas bois, ó: Nummmmmmm vi nenhum!
Comecei a ficar mesmo muito preocupado pois tinha com uma ganda espinha na ponta do nariz que ameaçava rebentar a qualquer momento, e como ia estar com a Filipinha, podia ser um pouco chato se lhe estourasse aquilo na cara. A minha sorte é que tinha o teste de matemática que dava para me distrair e não pensar nisso. Senão ia passar o dia cheio de caguefo. Pensei que entretanto podia ser que a avó aparecesse e me tratasse da espinha, o que me acalmou um pouco…
Mas o teste era um dilema quase tão grande quanto a espinha, e deixem-me dizer-vos que a espinha era mesmo grande. E de dilema em dilema, tal elefante de nenúfar em nenúfar, lá saltitavam suavemente os meus pensamentos entre os problemas. Ainda tentei desenhar um boi no caderno para resolver a questão da matemática, mas ficou mais parecido com um porco. Portanto, eu continuava sem ver boi de matemática, e talvez fosse mesmo culpa da espinha no nariz que não me deixava ver as coisas em perspectiva.
Entretanto o Jaime e o Filipe estavam a brincar com a bigorna da avó e deixaram-na cair em cima do meu pé, e eu até vi estrelas sem telescópio. O $%#& do boi é que teimava em não surgir no meu campo de visão, portanto, ainda tinha um problema para resolver, aliás, vários; um caderno deles para ser exacto.
Decidi então começar a puxar pela cabeça, o que só trouxe mais dores de cabeça. Desta vez para o Jaime uma vez que lhe puxei pelos cabelos até ficar com uns tufos na mão. Não havia solução.
Até que… Ouço algo que me chama a atenção: “Boiiiii!!!” Corro para a porta e vejo a Pamela aos berros: “Boi! Cornudo!” Esfreguei as mãos de contente. Os meus desejos tinham-se realizado. Qual não foi a minha desilusão, quando vejo que afinal era um senhor que deixava o apartamento da Pam em grande pressa. Pudera! A rapariga estava a precisar de óculos. Ele não era bonito. Mas confundi-lo assim com um ruminante? Voltei para dentro em completo desalento e a avozinha sorrindo perguntou-me com desprezo: “Algum problema?”
“É a matemática… vou ter teste e continuo sem ver boi.”
Então ela volta-se para mim e misteriosamente diz: “Não existe boi”. Tremi perante tal revelação, mas não consegui dizer uma palavra.
“Queres saber a verdade?” Acenei que sim. “Queres mesmo?” Voltei a acenar.
“Então tens aqui dois comprimidos. Um azul e um vermelho. O azul dá-te respostas. O vermelho não sei o que faz. Pode até ser uma anfetamina, um medicamento fora do prazo, ou cianeto. Portanto escolhe.” Como dizem que a verdade por vezes dói, decidi pegar no vermelho, quando a Pam ainda transtornada entrou de rompante, pegou nele e engoliu-o. Fiquei tentado a discutir, mas afinal, precisava mesmo passar no teste e lá tomei o azul. Esperei e esperei, e… fiquei na mesma, parecia que tinha bebido água com gás…
“Este é o primeiro passo para perceberes a matriz. Agora podes resolver exercícios com matrizes n x n, como se fossem contas de somar. Tenho também comprimidos para ajudar a resolver exercícios com determinantes, integrais…”
“Mas ó vó, só vou dar isso daqui a uns anos, a minha dificuldade para já são os números imaginários…” ao que ela responde “Ah, Mostra-me lá…”
Mostrei-lhe um daqueles comboinhos cheios de letras e números e ela virou-se para mim e disse-me: “Isto dos imaginários é simples. Tas a ver este problema? Imagina um número…”
Bufei e bufei de tanto pensar, mas finalmente, um belo e redondo 17 surgiu na minha mente depois de um grupo de sonsitos…
“Já está avozinha…”
“Agora escreve-o e tens o teu resultado”
Brilhante! Pensei eu. Era mais fácil que o que tinha pensado. O problema foi que o professor deve ter imaginado números completamente diferentes dos meus, e como tal, tive zero no teste.
Quando contei à avó dias depois, ela encolheu os ombros e disse:
“Sabes netinho, durante toda a vida há-de ser assim. O problema no ensino é que há muito professor com falta de imaginação.”
Paulo

terça-feira, outubro 25, 2005

Hércules

Era um dia de Sol radioso, em que os pássaros chilreavam baixinho pois o Tózé andava sempre á cuca. Muito gostava ele de os apanhar com a sua pistolinha de chumbos que disparava rolhas de cortiça. Se bem que nunca trazia nenhum para casa. Ao menos nisso era um bom menino. Ele dizia que eram difíceis de apanhar. Tinha que chegar mesmo à beirinha deles. Mas eu dizia-lhe “Porque não tiras o cordel da rolha? Acho que assim ficava mais fácil?”. Ao que ele respondia “Dddaaa, para não perder as balas!!!”.
Finos eram os pássaros em não fazer muito barulho. Imaginem a dor que seria apanhar com uma rolha na peid..., até me vêm as lágrimas aos olhos. Ainda por cima, podiam andar com hemorróidas! Acho que foi assim que apareceram as cristas dos galos. Mas o povo também diz que foi assim que surgiram as famosas uvas colhões-de-galo. Nem quero imaginar como chegaram a tal dedução.
Estávamos muito descansados a ver um documentário na televisão a bobines, que a avó conservava religiosamente muito bem no congelador, acerca da tecnologia nos pólos exteriores das raízes da estratosfera, enquanto esperávamos pelo pequeno-almoço, pois a avó tinha ido caçar uns ovos. Sim, caçar ovos, pois ela vestia sempre um fato justinho, todo malhadinho com umas couves esquisitas desenhadas.
Acho que o documentário tratava de uma tecnologia da guerra-fria. Também não percebo quem é que quer fazer guerra ao frio, ou será para espantar o Inverno?. Mas enfim, para cada tolo sua mania. Entretanto, eis que chegava a avó e virando-se para nós disse:
- Vocês nem imaginam com quem estive?
Pergunto eu muito incrédulo, preparado para todas as respostas possíveis.
- Com quem vó?... Espere ai, … deixe-me adivinhar, com a Pamela. Ela andava outra vez na apanha dos cogumelos?
- Não seu atrevido, deixa-te de pensamentos pecaminosos. Zás,…, um pote com água para a cabeça (daqueles que estão na lareira da cozinha para fazer o caldo). A avó dizia-nos que era para o nosso bem. “Vamos expulsar esse mal que está ai. Com quem ferro bate é porque não tem outra coisa à mão!”, já dizia a avozinha. Só gostava era que de vez em quando atirasse a água, em vez do pote. O raio do ferro dói para caraças. Mas era remédio santo. Os pensamentos lá desapareciam. Não pensávamos em mais nada durante uns minutos. Ás vezes os minutos tornavam-se dias, dependendo do tamanho do pote.
– Estive com aquele moço, o…, aquele que tem um pai que manda raios por um sítio esquisito. O Hemorróidas, … não o Hérpules, não…, não é isso, o Hérputes, não…, o Herpes, o Héracles. Sim isso, o Hércules. Estivemos a conversar um bocadito enquanto estava disfarçada de árvore a caçar os ovitos.
Agora percebíamos o porquê de tantas manchas brancas no fato da avó.
- Quem é esse, Hércules, avó? É algum vizinho novo, ou mais um moedinha cá do bairro? Perguntou o Paulo.
- Conversaram sobre o quê, avó? Perguntava o Filipe.
Nisto a avó dá duas valentes chapadas ao Paulo e ao Filipe. PAFT… (duas vezes), ou seja, quatro ao todo. Tive tempo de contá-las bem, pois parecia que tudo se mexia em câmara lenta. Até havia um som estranho no ar. Tipo quando se põe um disco em baixas rotações.
Deu bem para ver porque é que o Paulo ficou com a boca de lado. Depois teve que usar umas talas para por tudo no sítio, mas correu tudo bem. Apesar de ter doído quando tiverem que lhe espetar os pregos para segurar as talas. Já não se nota nada. Só quando se ri é que se ouve um assobio estúpido, mas a gente entra na onda e até é divertido. Até o convidaram para ir apitar uns jogos de futebol, mas estava sempre a levar com a bola nos tintins.
Mas o que saiu pior tratado foi o Filipe. No momento do episódio, ele estava com a língua pendurada na boca. Nunca mais tinha sido o mesmo desde que o Robim nos deixou. Aqueles dentes bateram com tanta força na língua que esta saltou logo fora. Lá teve a avó que voltar a cosê-la no sítio. Não havia era agulha nem linha. Então lá teve que se improvisar e utilizou-se uma caneta com um atacador preso na ponta. Parecia que estava sempre a babar-se.
- Já vos ensinei a não falarem todos ao mesmo tempo! - Nãaaooo, este é mais mítico. Vocês já devem ter visto o pai dele vir cá a casa. É aquele senhor, de barba grande e branca, que costuma vir cá pedir uma extensão para poder jogar à Paiestação. Não confundam com o que só vem cá uma vez por ano.
- Hhhaaa… (longo), nhão essthou a vher equem seija, bó! Disse o Filipe.
ZÁS, a avó cortou o atacador. Já não dizia mais disparates.
- Já sei. Disse o Paulo muito entusiasmado, pois já sabia qual seria o prémio se conseguisse adivinhar. - É o Zeus. Aquele senhor que gosta muito de caracoletas fritas. Ele dá jeito quando a luz falta em casa. Fica tudo a parecer uma discoteca.
- Isso mesmo meu netinho, toma lá um chuto dos da avó.
PIMBA, em cheio no traseiro do Paulo. Ficou tão vermelho que até dava para fritar os ovos do pequeno-almoço.
- Ups, … enganei-me, queria dizer um charuto.
O Paulo, todo contente, foi logo acender o charuto na lareira. Esqueceu-se foi de tirar os pés. Começou a correr por todo o lado, ás cabeçadas pela mobília toda. Até parecia que tinha lume nos pés. Escusado será dizer que a avó foi logo a correr ajudá-lo. Foi pisando nos seus pés até o perigo passar.
- E o que se passou a seguir, avó? Perguntou o Filipe.
- Foi uma desgraça. Lá vinha ele a cantarolar pelo quintal, com uma pele de leão às costas. Onde já se viu tal audácia. Ainda por cima a pele nem estava curtida nem nada. Eu disse-lhe que o ajudava a curtir a pele, mas não adiantou de nada. Ora punha eu ora punha ele a pele, com uma musiquita e uns copos a ajudar, sempre a curtir, mas ficava sempre na mesma. Tal foi a barafunda que assustamos os pássaros todos e já não pude trazer os ovos para o pequeno-almoço. Ai é que fiquei danada. Tive que colocá-lo de castigo. Ficou por cá a fazer-me uns trabalhitos. Era pouca coisa, acho que eram onze ao todo, pois já me tinha feito um...
O tempo foi passando e os trabalhos foram sendo feitos, até que veio o Sindicato do Olímpo e acabou-se (dia da despedida). A avó com pena por ter que perder um tão bom braço de trabalho, deu-lhe uma mantinha avermelhada, que tinha aparecido lá por casa não se sabe bem como, por causa do frio.
No dia seguinte, lemos no jornal que um sujeito não identificado se tinha atirado a uma das fogueiras do São Pedro e a única coisa que restava dele era uma mantinha avermelhada.
É como diz sempre a avozinha, “Quem com manta seus males adianta!”. Ou seja: “Se tirares a manta dos olhos podes ver o caminho por onde pisas!”.
Jaime

terça-feira, outubro 11, 2005

A Saga Atómica da Avozinha

Episódio III - Os Ficheiros XXX

Estava eu e alguns outros netos da avó a fazer umas pesquisas inofensivas na net (procurávamos na altura, aquele filme famoso de acção, o XXX), quando a avozinha que estava de passagem, reparou naquilo e arrancou logo a ficha da tomada, deu 50 PAFFS na careca do Berto, 30 a mim, 15 ao Jaime, e 12,5 ao Filipe (apanhou-o de raspão numa orelha), tão rapidamente, que demos apenas um AIIIII. Agora os galos são outro assunto. Nasceram todinhos, até o meio galo do Filipe.
O que acontecia, era que ela teve medo que descobríssemos sem querer os seus ficheiros secretos, e ficássemos a saber do seu tortuoso passado: O que tinha feito no Verão Passado, logo após o incidente dos Porcos Espaciais. Para nos acalmar, ela decidiu contar-nos a verdade. Sim A Verdade!
Estava tudo praticamente sanado, ou seja o problema da Baia dos Porcos, quando Roswell passou a constar no mapa. A Área 51, como ficou também conhecida a zona, derivava da queda de 51 corpos estranhos ali no Novo México.
O que se passara, foi que os porcos ao serem lançados no espaço pelos chineses, foram atraídos para a terra e 51 deles caíram ali em Roswell, que significa Rosbife em inglês-americano (sim, também há rosbife de lombo de porco. Experimentem! É daqui!!!), e claro, com os efeitos da entrada na gravidade quando cá chegaram vinham cinzentinhos de todo, quase carbonizados, e mais uma vez foram confundidos com extra-terrestres. Aliás se repararem bem no ET do Spielberg, vão notar que é parecido com um Leitãozito à Bairrada, que foi onde o António nasceu. Com todas as confusões que se geraram, começou a desinformação e contra-informação que já todos sabemos, mas do que os americanos tinham medo, era de alguém que sabia toda a verdade. Eu. E então decidiram caçar-me e apelidaram essa operação de “Caça às Bruxas.” Até hoje ainda não percebi porquê. Esperem só um bocadinho enquanto que eu vou ali mexer o meu caldeir… err… panelão de sopa. Sim sopa, não é uma poção, é o meu caldo de sap...ateira e gafanh… da Gafanha da Nazaré. “HIHIHIHIHIHIHIHIHIHIHIHIH”.
Ora onde ía eu? Já me lembro. Nessa altura, os homens de preto começaram a rondar a minha casa. Não sei se é por se alimentarem dos restos que deito pela janela, mas o que é certo é que os tipos não arredam o pé.
Ora, tendo que trabalhar na clandestinidade, uma loja prós lados da baixa, tornei-me na Garganta Funda e fiz até vários filmes de sucesso, onde revelava tudo. Toda a porcaria, toda a imundice, toda a badalhoquice e pouca-vergonha, que tinham feito comigo, com o Quim, o António e os porcos. Mostrei tudo o que havia por frente e por trás do assunto, sempre com cuidado para ninguém ver que batia com a língua nos dentes (porque afinal já tinha poucos nessa altura).
Foi assim que conheci o Santo Mulder que ainda era novo no assunto e precisava de aprender umas coisas, e eu predispus-me, encontrando-me com ele nas escuras garagens dos prédios.
Nunca me dei foi com a lambisgóia da parceira dele que tinha a mania que era boa. Uma sonsa é o que ela era. E as fotografias que surgiram mais tarde provaram isso mesmo. Ela era mesmo boa.
Tínhamos uma boa relação até ele me mentir. Um dia ele voltou-se para mim e disse-me: “A verdade está lá fora”. Saí a correr pela porta fora, mas depois de muito procurar decidi regressar. Era mentira! A verdade não estava lá. A única coisa que vi foi dois cães a terem um comportamento duvidoso.
Na série seguinte ele desapareceu e meteram lá o exterminador para o substituir. Viu-se logo que era armação, e eu fui obrigada a admitir que o Mulder estava morto (ou pior). Percebi então que ele tinha mentido para me salvar. Um mártir da causa. Um Santo, e tendo-se o Shwarzenneger rendido ao Lado Negro da Força, ou seja, à política, não havia quem pudesse ajudar-me. Ainda o chateei, porque ele até já tinha feito uns filmes comigo, mas nada feito, há quem diga que está tão corrompido, que até é capaz de tentar ficar com o lugar do Imperador.
Como tal cheguei à conclusão óbvia que tinha que fugir. Mexi uns cordelinhos, e apertei-os bem, com duas laçadas tal como vos ensinei a fazer, para que eles não se desapertem, e uma pessoa ao tropeçar neles, bater com a tola no chão e depois é uma porcaria sem igual: miolos e sangue por todo lado...ircccc, que nojo!
Depois foi só correr, inscrevi-me nos 10000 metros disfarçada de homem e ganhei a primeira medalha de ouro para o país e ainda fui a dupla do Tomankas no filme Floresta Gump, na altura em que deixei crescer a barba.
Entretanto, o Presidente que tomou uma medida que fez com que todos se esquecessem de mim… Sabem o que ele fez?
Eu sei! Declarou uma anestesia, disse o Berto…
E ainda levantava a avó o braço para o punir por tal barbaridade e sai-se o Jaime com o seu ar de sabichão:
Ó estúpido, não é anestesia, é amnésia. A avó já desalentada, não conseguiu mais que dar-lhes um pafffffito.
NABOS! É amnistia! O que eles não sabem é que eu coloquei tudo na Internet, todos os filmes com as provas em ficheiros XXX, e por isso são o tipo de ficheiros mais procurados na net.
Portanto, caros leitores, como já dizia muitas vezes a avozinha: A verdade é como as meninas da má vida: Está lá fora e em todas as esquinas!
Paulo

sexta-feira, setembro 23, 2005

A Saga Atómica da Avozinha

Episódio II: Porcos no Espaço

Estávamos a comer umas boas febritas à moda da avó, ou seja tão torradinhas e duras que podiam bem ser lascas de madeira carbonizada, pois talvez o cheiro a porco fosse apenas do pé do Filipe que ainda ardia, quando a avozinha depois daquele arroto de satisfação que só ela sabia dar, e passo a citar: “GROWWWWWWWWWWW”, disse:
Hoje vou contar-vos o que aconteceu ao António que trabalhava comigo e com a Glória, mais conhecida anteriormente por Quim das Coubes, célebre cientista enquanto homem no laboratório, e como cantora de fado do Bairro Alto, quando andava nos TT’s da sua velha mãe (Toilettes e Tintóis). Foi assim:
Depois da experiência no Amoreiras, durante uns anos ninguém mais viu ou ouviu falar do António, excepto em algumas canções pimba, embora esses rumores fossem altamente exagerados, afinal as músicas foram feitas 40 ou 50 anos depois.
Um belo dia (chovia cães e gatos, e sabem que eu adoro animais. Por isso estão a ver o meu sofrimento em ver aqueles animaizinhos todos espetadinhos nas pontas dos guarda-chuva), saíram no jornal artigos que mostravam que os americanos não foram os primeiros a por o pé na lua. Nah, não foram. O primeiro foi o António, e a primeira coisa que ele lá pôs nem foi o pé. Foi o rabo. Aquele gigantesco desfiladeiro que se vê quase a olho nu naquele lindo planeta, não é mais que uma obra da sua racha… errr… uma racha da sua obra, tal a violência do impacto.
O Elevador da Glória, como ainda hoje é conhecido, era um autêntico meio de transporte espacial, e isto fez torcer muitos narizes, pelas razões que obviamente compreendem. E=mc2, passara a ter um novo significado, peid…, libertação massiva de gases, mas o importante, foi o que o António decidiu fazer para se safar, morando agora por tempo indeterminado fora de casa. A primeira vez que morava sozinho, era logo noutro planeta. Podem ver que a “Força” com ele era muito potente.
O Tó sempre fora um rapaz de sorte, não é que o moço levava consigo algumas “assandes” e uns cachorros quentes na sacola? Digo cachorros quentes, pois os bichanos quase que assavam dentro do elevador. Foi a partir dai que começou-se a falar na famosa Lassie. Era nada mais nada menos do que o primeiro cachorro quente que teria sido inventado para além das fronteiras da Terra. Afinal, tinha-se que aproveitar os cãezitos que tombavam para o lado. A “Força” era muito sentida naquele pequeno espaço.
Não só lhe permitiu sobreviver os primeiros tempos, como graças a isso se tornou o primeiro empresário de fast-food do espaço, sim porque entretanto chegaram os chineses e começaram logo a vender berloques e hi-tech tudo a 150 paus (é que os moços têm a mania de espetar o pau em tudo que é comida).
Depois vieram fazer queixa dos famosos cachorros. Diziam que ganiam muito quando lhes enfiavam o pau. O Tó bem que lhes dizia que aquilo não era sushi. Tinham primeiro que lhes dar uma paulada, mas era difícil compreenderem pois como sabem no espaço existe vácuo. Logo o som era… não sei bem como era, afinal ninguém o conseguia ouvir. Então tentou lembrar-se de algo para substituir os cachorros, foi então que o Tó me pediu para lhe enviar outra matéria-prima, ou seja, porcos.
Ó bó! E como é que ele fez isso? Ainda não haviam satélites de comunicações… PAFFFFFFF, ganda tacada de golfe, e lá foi o olho do Jaime entrar direitinho no ralo triturador do lava-loiça.
Cala-te abelhudo, que eu já lá ia…
Bebeu um gole da sua água com estricnina, pigarreou e continuou:
Homem que é homem anda sempre com uma garrafita, e o Tó lá conseguiu meter um tufo de pelos lá dentro, disfarçar de bonsai e trocar com os chineses por um telemóvel, ao qual atou um papel com uma mensagem e atirou cá para baixo em direcção a minha casa. O Tó era campeão regional de malha, por isso foi fácil acertar, pois era a descer. Eu ia a entrar em casa quando ouvi: “fiiiiiiiIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIUUUU”, e já não ouvi o “CAPOW”, pois fiquei estatelada com o nariz no chão. Quando acordei, no meio da cratera na tola encontrei o fabuloso dispositivo e lá dentro, o SMS, acabadinho de inventar pelo Tó. Bom pupilo do seu mestre.
Fui para a Praça dos Restauradores, para onde transladaram o Elevador da Glória do Amoreiras, com uma vara de 1500 porcos que fui carregando e lançando em grupos de 250.
A operação teria sido um sucesso, não fosse o último lançamento ter sido fracote e uma das encomendas ter caído numa baiazita de Cuba e logo em cima de um grupo de turistas americanos que andavam por lá a jogar Paint-Ball. O Fidel ficou tão chateado por ver outros porcos a chafurdar no seu lamaçal que ameaçou lançar mísseis para todos os lados. Graças a este incidente outra expressão ficou para a história, os Imperialist Pigs Americanos, como o barbudo passou carinhosamente a chamá-los.
Quanto ao Tó, foi perseguido pelo fisco espacial, pois como empresário português achava-se imune, mas o que fez de pior, foi não pagar protecção à máfia chinesa e acabou por desaparecer misteriosamente quando foi à lavandaria do Sr. Chen buscar os seus aventais.
Ora máfia que se preze, quando se livra de alguém limpam todos aqueles que estejam relacionados com o seu alvo. Neste caso a solução que eles encontraram foi lançar todos os porcos do António em todas as direcções do espaço sideral.
Os astronautas que faziam os primeiros voos no espaço confundiram os bacorinhos com Correlianos e pensou-se que estivemos para ser invadidos por forças extra-terrestres, razão pela qual aconteceu de seguida o incidente em Roswell e mais uma série de trapalhadas à americana, mas isto é apenas o que dá o mote para o 3º e último episódio desta saga, onde vos vou apresentar o santo homem que ficou encarregue de descobrir A Verdade, portanto, não percam em breve:

A Saga Atómica da Avozinha: Episódio III – Os Ficheiros XXX
Podem ir a
www.pêra.com/atrelado para ver o trailler. (só é pena que não haja um).
Paulo

sexta-feira, setembro 02, 2005

A Saga Atómica da Avozinha

Episódio I: O Elevador Atómico

Estávamos entretidos em frente à lareira a queimar pêlos do rabo, expelindo gases contra as chamas, para fazer bolitas de fogo, quando a avozinha decide juntar-se a nós levantando as suas sete saias e mostrando-nos de que matéria é feita um profissional. A prova viva (mas mal) desse facto é o primo Berto, que estava no ponto-mira do seu grande disparo e ficou quase como o tocha-humana quando foi atingido. Tão espantados com aquela bola de fogo digna de uma super-nova, esquecemos o moço que ficou a arder durante alguns minutos. Quando nos lembramos, metemo-lo dentro de uma bacia com água, e esta evaporou em segundos. Foi preciso a avó usar a vassoura de palha e o Tommy-Lee para o conseguir apagar.
O coitado, não obstante de ter participado em tão grandiosa demonstração, é careca desde essa altura, e pelo que sabemos, terá ficado com alguns neurónios assados, pois cada vez que ele pensa cheira sempre a churrasco.
Finalmente, depois de apagado e largado num canto cheio de bétadine, ela voltou-se para nós e disse:
Eu sou muito boa nisto, porque nos anos quarenta fui assistente do famoso Quim das Coubes, um cientista de renome internacional, na terra dele. Graças a ele tive oportunidade de participar num dos mais ambiciosos projectos nacionais de todos os tempos. A equipa era composta pelo Quim, o António e eu, mas, não tínhamos nada de concreto em que trabalhar, até ouvirmos falar do elevador atómico americano. O seu funcionamento era muito simples. Colocava-se uma carga atómica de algumas mega-toneladas na base, por exemplo do edifício Chrysler, mesmo sob o fosso do elevador, que este seria enviado rapidamente para o topo, após a detonação. Tudo isto era empírico, uma vez que o custo de cada ogiva era astronómico. Mas derivado dessa teoria, o Quim, decidiu testá-la usando fontes de energia alternativas de baixo custo. Os americanos usam sempre energia da mais cara. E nós bem sabemos que se dependesse de outros povos, os carros há muito que andavam a ar, à semelhança dos povos em algumas democracias comunistas e ditatoriais, que nem precisam de comer, tal o estado avançado da sua ciência.
Se bem o pensou, Quim melhor fez, empanturrou o António de feijoada, fechou-o na cave das Amoreiras, mandou-o acender o fosforito na altura de libertação de gases e: BUUUMMMMM! FRRRRRRRRRRRRRRRR! Atentem, não só conseguiu projectar o elevador, como arrasou Lisboa! Na altura os serviços secretos mascararam aquilo de terramoto.
Mas o homem nunca mais foi o mesmo. Trocou de sexo e passou a chamar-se de Glória. Mais tarde, deviam ser para aí seis da tarde, com tantos remorsos, suicidou-se com uma rajada de metralhadora nas costas, quando ia a passar por um bairrito em Lisboa. Vejam só a genialidade do homem, mulher neste caso. Conseguiu que pensassem que tinha sido homicídio.
Escolheu o local e a altura certos para o seu último grande plano. Era um dia de muito vento, e ele, disparando para a frente, conseguiu que o vento trouxe as balas de volta num remoinho que lhe acertou pelas costas. Essa teoria ainda é hoje muito discutida. A teoria da rajada mágica. Esse bairro ficou a partir desse incidente conhecido como o Casal Ventoso.
Para a história, fica a tristeza de quem pretendia o primeiro Elevador António, e criara antes uma Bomba Antónia.
Ao ouvirmos este relato ficamos completamente atónitos e perguntamos à avó: Que aconteceu depois? – E uma vez mais PAFF!! PAFF!! PAFF!! PAFF!! Nem o Berto, queimadito, escapou.
“Meus netinhos, isto faz parte de uma trilogia, e portanto, vão ter que esperar pelo segundo episódio.”
E que remédio tivemos, senão esperar. Portanto, e como os prezados leitores não são mais que nós, vão esperar também, mas com menos galos na tola.
Portanto, não perca daqui a quinze dias (mais ou menos, dependendo dos “posts” dos outros netos):
A Saga Atómica da Avozinha: Episódio II: Porcos no Espaço
Paulo

quinta-feira, agosto 11, 2005

Sistema Solar…

Uns dos dias mais marcantes da minha vida passou-se quando certo dia a avó chega a casa, já bem pela noite dentro, vinda mais uma vez das suas já famosas aventuras, que são publicadas pela DC (Denominadamente Campestre), pois ela era a sócia maioritária da empresa, visto que não havia ninguém mais velho a mandar no estáminé e ninguém ousava fazer-lhe frente. Quando muito, chegavam-lhe de lado. Ainda está para vir alguém para tentar se quer ousar tal façanha. Pffff, de frente… Até só de pensar, mijo-me todo pelas calças abaixo do Paulo. De preferência no Inverno, pois quebra as estalactites de certas partes com formas estranhas.
Nós todos ouvimo-la chegar à caver…, à garagem devido ao ruído do seu bólide. Ela fartou-se do carrinho de rolamentos. Sem o Róbim, não tinha a mesma piada… Aquele carro fazia sempre um barulho singular. Aquela explosão à entrada, acordava qualquer um. Mas acho que devia ser defeito. Pelo menos chegaram a sobrar algumas peças. Sei que a avó mandava vir de uma empresa estrangeira de nome duvidoso. Empresas BW de Gollum ou Gátum Citi. Se a memória não me escapa acho que era isso. Pelo menos, era o símbolo que tinha nos envelopes quando chegavam lá a casa. Sempre que chegava um, ficávamos todos empolgados pois era mais uma peça para montar. Nós chegávamos a perguntar o porquê de vir assim, mas a avó sempre respondia “Já estão a imaginar o que era lamber aqueles selos todos, só para enviar o carro por carta? Para não falar que tinha que construir uma nova caixa de correio. Coitado do carteiro, ter que carregar aquilo tudo na sua pastinha! Se calhar foi por essas e por outras que os carteiros viraram postal, ou como dizem os amaricanos – They’ve gone postal.”. Como sempre, a avó tinha a sua razão.
O pior era o estrago que fazia sempre que entrava em casa. Vocês não estão a imaginar o que é ter churrasco todo o dia devido ao escape do carro. Se bem que para depenar as galinhas dava o seu jeito. E se colocássemos um paiozinho no meio, ai sim é que saíam umas boas espetadas.
Ela entra em casa toda esbaforida, pior que uma parede de cal sem grafites, levando tudo á frente, pisando em tudo e em todos, “Jaime…, Paulo…, Filipe…, Lúcio…, Quimberto…. Onde estão?”
“Estamos aqui de baixo vozinha! É só levantar o seu pé, ficámos colados na sola!”.
Todos estávamos curiosos do porquê de tal agitação. Ainda por cima àquelas horas da noite. A que se deveria?
“Meus ricos meninos. Tenho uma coisa muito importante para vos dizer. Algo que vai alterar a vossa maneira de ser para sempre. Existe um buraco negro no nosso Sistema Solar.”
“Ó vozinha, tem sim que eu acabei de ver… o sistema solar das suas botas tem um buraco…” – Disse o Filipe
“Não é esse, seu parvo!!!” e claro PAFFF com o Tommy-Lee “Hello!!! É o nosso Sistema Solar: Mercúrio, Vénus, Terra, Marte…, Sol no meio - todos encarreirados a andar ó de volta dele tipo carneirinhos… daaaaa???”
Ao ouvirmos tal notícia, caiu tudo. Mundo, tempo, bolinhas, berlindes… é o que dá ter os bolsos rotos. Se a avó não nos tivesse abanado tanto, eu ainda tinha as bolinhas com que brincava com a Pamela. Ainda me lembro como se fosse hoje. Uma vez até deixei cair o leite por cima de duas prateleiras. A avó bem me dizia, “Olha que brincar enquanto lanchas, não dá muito jeito, ainda vais sujar tudo!”. E avó tinha mesmo razão. O leite mais tarde ou mais cedo acabava por cair do copo. Mas as bolachas, essas, iam todas.
Mas que raio seria um buraco negro? E o que seria o Sistema Solar que a avó tanto resmungava com o Tommy-Lee? Já sabíamos que não era o das botas da avó. A careca do Filipe provava isso mesmo. Mas existiria mais algum? Haveria mais sistemas solares pela casa? Nós íamos perguntar à avozinha, mas mal abrimos a boca, caímos para o chão redondos e inconscientes. Mesmo de chapa. Os tiques nervosos do Filipe já mal se notam, mas eles ainda estão lá. Até o cabelo mudou de cor. Possivelmente devido ao nevoeiro que se encontrava em casa.
Foi então que a avó se lembrou e foi a correr para a garagem. Tinha-se esquecido de desligar o bólide e os monodioxidos estavam a intoxicar-nos.
Devia ser por isso que acordámos no dia a seguir, todos amontoados uns a trincar nos pés dos outros, com uma ressaca pior que as do cházinho ou do que as do fuminho da avó. Só nos lembrávamos de um sonho esquisito, a ver com buracos na sola das botas.
Jaime

quinta-feira, agosto 04, 2005

Róbim, o Gato das Botas

Hoje vou falar-vos de um animal de estimação que a avó teve durante vários anos, o gato de nome Róbim.
Nos primeiros tempos, o gato era branquinho, e como foi confundido com uma gata, chegou a chamar-se Branca de Neve, mas descoberto o equívoco, mudou-se para Róbim, vá-se lá perceber porquê.
Por ser fofo e branquinho como o algodão, a avó achou que ele podia ter muitos usos, nomeadamente de limpeza, até porque não largava pêlo. Passado algum tempo escureceu (assim que o Sol se pôs), até ficar completamente castanho e ressequido. Ela decidiu lavá-lo, colocando-o na máquina de lavar mas como ele arranhava muito o vidro, obrigou-a a optar pelo método manual, e depois de tanto o esfregar com a escova de aço, conseguiu apenas que ele ficasse assim listrado como o conhecem e com os olhos esbugalhados. Eu desconfio que isso dos olhos se deve a ter estado a brincar um dia inteiro sozinho com o Filipe, até porque nos dias que se seguiram, quando se encontravam, o animal afastava-se dele em marcha-ré. A verdade é que o tempo cura tudo, e lá ficaram amigos, e o Róbim até já ia para o seu colo espontâneamente, sendo até difícil removê-lo de lá.
O que ninguém percebeu, foi porque razão o gato foi ficando com as patas meio reviradas para fora, até que a avó não teve outro remédio senão comprar-lhe umas botas ortopédicas para que ele corrigisse o andar.
E isto foi o início do fim: Ele gostou tanto das botitas que se recusava a descalçá-las, mas a avó, devido aos seus antecedentes orientais, não permite que ninguém entre calçado dentro de casa, o que às vezes provocava intoxicações de fragrância ultra-concentrada de queijo no bairro.
Pela teimosia das botas, ou porque ele urinava pelos cantos, ela acabou por expulsá-lo. Era um bedum que não se podia!!! Ela ao início tentou desculpá-lo dizendo que era natural a marcação de território. E que marcação! De minha casa sentia-se o cheiro! Mas isso podia dever-se ao facto de ele me ter urinado também na perna, ou teria sido o Jaime?
A avó um dia até lhe fez um fatinho para tentar reter aquela tendência urinante. Era um fatinho de elastano (licra, para os ignorantes), com cuequinha (que não sei porquê, vestiu por cima das calças), e pôs-lhe até uma toalhita nas costas. Mas a verdadeira “piece de résistence” (chamava-lhe assim, porque acho que tinha mandado vir da frança) era o R estilizado que lhe bordou no peito, e que ele exibia com todo o orgulho.
Eles faziam uma dupla super-engraçada. O duo dinâmico; foi assim que nós passamos a chamar-lhes quando os começamos a ver descer desgovernados a alta velocidade a rua no seu carrinho de rolamentos, a que ela chamava de bat… otomobile (era para dar um ar italiano). Tantas vezes se estampavam contra os muros e ficavam com os ossos partidos, os olhos pendurados e as tripas de fora… hahaha, que saudades… tantas vezes lhe dissemos que os air-bags que tinha não chegavam… tinha que pôr no carro também, e já agora, porque não, meter travões!!! Mas se não quisesse gastar dinheiro aí, ao menos nas descidas que não dissesse ao gato para empurrar, que aquilo ganhava cá uma bolina que obrigava às vezes ao Róbim cravar as unhas nas suas costas para não cair (a sorte é que ela já estava habituada) e mesmo assim o coitado lá ia pendurado a bater com os tintins naqueles paralelos bicudos da estrada (TIM! TIM! TIM! TIM! TIM! TIM! TIM! TIM!) até ficarem esparramados numa parede qualquer.
É claro que a avó lhe tratava sempre dos ferimentos, limpando tudo muito bem com álcool.
Ah… A avó e o Róbim eram grandes amigos, e ainda são… penso que ainda se escrevem até hoje…
E não se preocupem com o Róbim, que segundo sei, está bem, e de saúde, pois ele sempre foi um prodígio (e ainda o é). Ouvi dizer que transformou um jovem plebeu em Marquês, e à conta disso conseguiu um papel num blockbuster de animação onde contracena com um personagem que tem algumas semelhanças com a avozinha, principalmente no verde…
Mas agora penso que percebem de onde veio essa lenda do Gato das Botas? No fundo, é como quase tudo o que rodeia a avó, de uma coisinha fizeram uma lenda mal contada (ou várias), e claro, os boatos encarregam-se do resto.
Sabem como é: Má vizinhança tem muito com que encher a pança. Já dizia a avozinha.
Paulo

segunda-feira, julho 25, 2005

Para a Avozinha

Para a velha Avozinha
Dos teus lindos netinhos
Não uses tua bengalinha
Que já estamos partidinhos

Começando pelo mais velho
Que é Paulo, já sabemos
Chega-te pelo joelho
Mas é tudo o que temos

Depois vem o do meio
De seu nome Jaime
Até não ficou feio
Depois de cair do andaime

Por fim vem o mais novo
De seu nome Filipe
É parecido com o avô-ovo
Esmagado por um jipe

Vives num apartamento
Lá em cima com a Pamela
O porteiro é um jumento
Que te rapa a panela

Tens muitas opiniões
Acerca de tudo o que rodeia
Não dizes palavrões
Mas fazes sempre cara feia

Não tens dentes há muito tempo
Nem sabemos como comes
Andas sempre em passo lento
E nunca se sabe onde dormes

Hoje até tens um blog
Escrito pelos teus netinhos
Apesar de pareceres um ogre
Eles saíram todos lindinhos

O mundo para ti é esquisito
Não o compreendes muito bem
Ressonas como um mosquito
E fazes limonada como ninguém.

És uma velha refilona
Estás sempre a criticar
Não passas de uma babona
E estás sempre a arrotar

És uma velha heroína
Pareces um grande íman
Veste o fato pela matina
O teu fato de Bat... err cozinheira

Encontrei este poema num velho caixote (talvez do lixo), quando fui este fim-de-semana fazer faxina em casa da avozinha. Estava com algumas das coisas que ao longo dos anos fomos oferecendo à avozinha, nas ocasiões especiais.
Este foi escrito pela Jomocasilanavia, a netinha ucraniana, pelo Dia da Avó de mil novecentos e troca o passo. Foram tão boas as recordações que ele me trouxe que não resisti em publicá-lo. (em breve colocarei uma digitalização do postal original).
Filipe

segunda-feira, julho 18, 2005

Elfos

Mais uma vez, sentados em redor da lareira, quero dizer à sua volta, ficávamos impacientes à espera de saciar a nossa sede com mais uma das histórias da avozinha.
Ás vezes não era preciso esperar muito tempo para ficarmos embasbacados, até mesmo, empedernidos, pois o chão da lareira quando dava para ser frio, era-o de tal maneira que arrepiava-se a espinha e todos aqueles três cabelos do peito levantavam-se em sentido, como se prontos para a inspecção, quais tropas aflitas.
Pois é meninos, começou ela, sabem quem são os Elfos?
E o Filipe disse logo: É gasolina... Acrescentando o Paulo: da Diesel...
Também eu pensava que era gasolina, mas afinal estava bem enganada. Também serve para meter nos carros, mas como amuleto da sorte ou em caso do ambientador avariar.
Mas cheguem-se que eu vou contar-vos o que me aconteceu no outro dia quando fui cag… fazer um pic-nic na floresta.
Ansiosos, limpamos os ouvidos com o que tínhamos à mão. O Paulo tentou espetar o Róbim no ouvido (o gato), o Filipe uma brasa quente, mas nesta altura a Pamela já estava a dormir e por isso teve que se desenrascar, e eu usei uma coxa de frango.
Começou por ser um belo dia. Tinha acabado de cag… chegar à floresta e preparei tudo: Fogueira, toalha, formigas, o franguito de churrasco (já vinha assado de casa, porque não fosse o diabo tecê-las bem que ficava sem ele) e o afamado garrafão.
E começo a minha festança, saltando pela fogueira e fazendo aqueles barulhos típicos de quando se salta na fogueira, ui… ai…, tipo como aqueles moços fazem quando querem que chova, mas nunca chove. Enfim, rituais.
Foi então que reparei que não estava sozinha. Tinha sido rodeada por todos os lados por umas pessoas com umas feições esquisitas e umas vestes um bocado, … como hei-de dizer, … um bocado diferentes.
Eram de uma beleza inimaginável, tudo era ofuscado pela sua beleza, até que pus os óculos e quase que se me dava um piripaque. Se não fosse um deles a segurar-me, ai ai, era um tombo e tanto. Tinham umas orelhas pontiagudas e uns olhos profundos que entravam na alma das pessoas, eram parecidos com o Sipoki mas sem os dedos tortos de tanto roer as unhas. Malditos Vulcanos. Sempre a explodir por todo o lado que nem pipocas. Se imaginassem o trabalho que dá em limpar a porcaria que fazem, acho que começavam a usar fraldas. Daquelas que se põe na rua para proteger os carros.
O chefe deles, pelo menos parecia, pois era o que tinha mais manias, dirigiu-se a mim e falou numa língua estranha mas que me era familiar. Sim, pois a vossa avó já é muito vivida, e viu muitas coisas quando viajava pela Terra Média, lá pelo estrangeiro, para os lados do Médio Oriente. “Minha Senhora, nós somos os Elfos. Somos os guardiões desta floresta encantada. E segundo o código, não podeis fazer tanto barulho. Estais a perturbar a paz da floresta! Vêde aqui no Novo Código da Floresta, anciã”.
Mas o gajo está-me a chamar de velha? Agarrei logo o Tommy Lee, mas depois pensei melhor. Não queria confusões. Afinal eles eram mais do que eu, e não tinha trazido o bat…, o Tupperware na cesta, para levar os restos. Como tal, decidi pôr uma pedra sobre o assunto. Mas como já estava cansada e não havia pedras por perto, escolhi por bem fazer as pazes com os tais elfos. “Peço imensa desculpa pelo sucedido. Não era minha intenção perturbar a ordem natural das coisas. Só queria comer o meu franguito descansada e beber um traguito do meu carrascão!”. Para acalmar as hostes decidi que podíamos fumar o cachimbo da paz. Mas como eles não tinham trazido o cachimbo, e as minhas folhas de papoila tinham acabado, decidimos trocar objectos em sinal de paz. Se bem que o fuminho saberia bem melhor. Pelo menos sempre podíamos ver uns elefantitos cor-de-rosa e umas sereiitas a voar. Foi então que lhes dei a provar da receita da avó (uma delas bastou). O famoso mata-bicho que trazia sempre comigo. Sim porque nunca se sabe quem nos aparece à frente no meio de uma floresta. Neste caso foram os elfos. Também, pior não podia ser.
Eles provaram a receita e uma coisa é certa, acho que a maioria deles ainda anda por ai caída. Era só bichos a cair por todo o lado. Eram bichos eram bichas (os dois sexos são precisos para a procriação), eram duendes, eram fadas. Tudo o que parecesse esquisito. Só o raio do Sipoki é que não tombava, rijo como o aço.
Eles em troca deram-me o famoso pão élfico que não sabe a nada. Não engorda e não faz mal (e cá entre nós pffff, nem eles o comem, se não já estavam extintos de tanta fome que passavam). Sim, porque os meninos Elfos, têm a p...u... (aqui deve-se ler “menina que presta serviços variados; especialidades de ourivesaria, aspiração central, veículo todo o terreno, etc, por um honorário decente.”, mas devido a possíveis audiências infantis, foi substituído. Aconselha-se também aquando do momento da leitura desta rábula, sempre que se encontrar alguma palavra não apropriada ou susceptível de ferir algum ouvido ainda não treinado é favor de dizerem PIII, e se possível colocar uma folhita com um círculo vermelho no ar) da mania de andarem sempre bem alimentadinhos sem calorias e sem gordurinhas nenhumas. Cambada de trolls!
E foi assim que a paz ficou estabelecida e pude retomar ao meu já merecido manjar. É claro que a festança de vez em quando espreitava. Mas festança implica barulho, e fazer um basqueiral, à noite, numa floresta encantada, mmm não me parece. Ainda por cima tínhamos o raio dos Elfos, que estavam sempre á espreita. Sempre a tentar fisgar algo, algum pobre animal indefeso, que quando não está a olhar, PIMBA, é logo comido por detrás. São todos é uma cambada de… de… meninos de coro. Vocês percebem…
Basta olhar pela maneira como se vestem, sempre perfumadinhos, bem penteadinhos.
Até parece que já estou a ver. Naquelas noites em que não passa ninguém, nenhuma ovelha, nenhuma galinha, para gozar um bocadinho, deve ser uma festança. A fome aperta e se calhar comem-se uns aos outros, e aí é que é festança. Ai é, é.
Mas pronto os Elfos são isto. Amostras de gente… cheios de peneiras, códigos parvos, não têm sentido de humor nenhum, com ares de ambientalistas rebeldes, mas depois não aguentam sequer um golito de vinho.
- Oh... preferia continuar a acreditar que Elfo era gasolina. Disse o Filipe. Pelo menos sempre dá mais pontos!
- Olha meu netinho… Pelo que descobri, eles ardem tão bem quanto gasolina e à falta de galinhas… não são nada maus…
Depois de ouvirmos uma história assim ficamos deveras surpreendidos sabendo que tal criaturas afinal existem. Mas a nossa dúvida não era assim tão grande, afinal tínhamos uma avó e morangos!!!! Ou então laranjas, pêras, dependendo da altura do ano. É claro que partimos do princípio que a avó não tinha assim muitos amores pelos Elfos. Pelo menos que se saiba até hoje, nenhuma carta foi escrita, nenhum telefonema efectuado, nada.

Jaime

quarta-feira, julho 06, 2005

Céu e Inferno

Um dia tremendo do meu lábio superior direito tive a audácia de perguntar à minha avozinha se aquela história, que a mamã me tinha contado, de os bons irem para o céu quando morrem e os maus para o inferno, era mesmo assim.
Ela olhou-me nos olhos e respondeu-me com outra pergunta: “Queres mesmo saber?”
Eu acenei timidamente com a cabeça enquanto ela olhava para mim passando a língua pelos lábios para depois responder: “Não!”
Depois abraçou-me com força, ou talvez estivesse apenas a tentar tirar-me do caminho para se dirigir para o outro lado da sala. Tanto é que se a memória não me falha, acho que ela chegou mesmo a passar-me por cima, daí esta marca de tamanco que tenho até hoje na cara.
Depois de bem atestada, desapareceu para a sua batcav…, mmmm, bem, foi buscar um DVD muito antigo já todo carcomido e arrancando-me do chão, arrastou-me até à sala e apontou com o seu dedo mecânico, indicando-me que devia colocá-lo no leitor.
Enquanto passavam as apresentações, perguntou-me: “Que tal umas passas?” Achei estranha a pergunta, pois não era Natal nem passagem de ano, mas acenei com a cabeça afirmativamente.
Ela lá deve ter mudado de ideias pois começou a enrolar dois cigarritos do seu maravilhoso chá seco, acendeu-os na fogueira e deu-me um. Suguei o fumo e comecei a tossir tanto que tenho a impressão que um pulmão chegou a tocar-me as amígdalas.
Entretanto apareceu a Pamela (ela nessa altura já vivia no apartamento do lado) para pedir um bocadinho de chá. A coitadinha tinha muitas dores, e passava noites e noites aos berros. Chegavam mesmo a ir lá vários médicos à noite para tratar dela, só que quantos mais iam, mais ela berrava.
A avó disse que só lhe dava chá, se a Pam lhe lavasse os pés à noite. Depois de muito discutirem, lá chegaram a acordo e a avó disse que se ela fizesse um bom trabalho lhe dava também um saquinho de leite em pó. Eu gostava de fumar o chá, mas num dia que a avó estava no ginásio bebi um bocado do leite e fiquei muito doente, e se não fosse o dragão que passou por lá com a bela adormecida (que já agora aviso que bela só a fita que trazia no cabelo) podia ter ficado muito mal – com soltura (leia-se: diarreia) ou pior.
A avó deu-me uma cachaçada para que eu olhasse para a TV, e lá, estava um gajo com asas a jogar ao berlinde com outro todo vermelho e com cornos.
Ás tantas, o das asas bate com a mão na testa e diz: “Raios! Perdi outra vez! Quantos é que tenho que mandar para cá?”
Entretanto a fita do DVD lá deve ter enrolado dentro do leitor e não consegui ver mais nada, o que me podia ter deixado bastante chateado, se não fosse a pantera cor-de-rosa ter-me convidado para jogar xadrez.
Mais tarde reflecti sobre o assunto e não tenho a certeza de ter percebido a explicação, mas, por via das dúvidas nunca mais joguei ao berlinde e aconselho todos a evitá-lo. E digo mais: o nos contam sobre o céu e o inferno é mentira, ai isso é, porque se a avozinha diz, é porque é verdade, ou como ela também costuma dizer quando há dúvidas:
Rouxinol que voa de galho em galho é como um macaco preso no alcatrão.
Paulo

terça-feira, junho 28, 2005

Histórias de embalar

Certa noite, lembro como se fosse ainda hoje, a avozinha decidiu contar uma história que lhe aconteceu há muito, muito tempo numa aldeia muito, muito distante...
Aconchegou-me a mim e aos outros netos, o Paulo e Jaime, os três na sua cama. Lembro-me que o Jaime era o tipo de pessoa que sofria de incontinência crónica e urinava frequentemente na cama, mas até não me importava muito, pois fazia frio e aquele líquido amarelado até era bem-vindo pois aquecia ao ponto de fazer suar.
A avozinha sentou-se então no seu velho cadeirão feito de palha. Cadeirão esse, que balançava para a frente e para trás fazendo um lamento que mais parecia o grito de almas penadas. Muitas vezes adormecemos ao som de embalar do velho cadeirão! A figura imponente da avozinha sentada no seu cadeirão impunha respeito, ela parecia que se fundia com ele, pois a gordura gelatinosa que lhe era característica na época derretia-se alegremente por ele abaixo. Ela usava o seu longo bastão de apoio como alavanca para se baloiçar para a frente e para trás ao som do cadeirão: aaarghhh! Ouuuuouuuuo! Aaaaaaahhhhh! DOR, OH DOR! Gritava ele.
E ali estávamos nós, os três netinhos favoritos de olhos vidrados na nossa querida avozinha, éramos só nós, ela e o seu bastão, que usava na nossa cabeça quando começávamos a adormecer. Obviamente que o usa de forma gentil e cuidadosa, a avozinha quase nunca o usava com os pregos virados para baixo.
Estávamos então prestes a ouvir mais uma das histórias verdadeiras e únicas da avozinha. A sua voz melodiosa de dobradiça mal oleada começou então:
“Era uma vez há muito, muito tempo atrás nos tempos da minha juventude, quando os animais ainda falavam, estava eu nesta casinha a lavar o chão com as minhas cuecas...”
“Posso ir à casa de b…” Interrompe o Paulo e… PAFF! – Responde rapidamente o bastão da avó na cabeça dele, dizendo ainda PAF!! PAF!! PAF!! PAF!! - Para ter a certeza que não voltaria a interromper. “Mas avozinha tou com diarreia!” PAF!! PAF!! “Mas...” PAF!! “Não..” PAF!! “Ai…” PAF!! “Sim…” PAF!! “Não…” PAF!!
Parecia uma música rap. Ao fim de 20 minutos ele calou-se, não sei se das pauladas ou do cheiro nauseabundo da diarreia que entretanto se tinha espalhada pelos lençóis e misturado com a urina do Jaime provocando uma toxina letal e corrosiva que foi gradualmente derretendo o colchão e o meu próprio pé. Fazia-me lembrar os deliciosos sumos de limão que a avozinha sempre nos preparou com os limões que ela usava para limpar as colheres.
“Como estava a dizer, eu trabalhava muito para a minha madrasta e para as minhas 3 irmãs e também para aqueles simpáticos sete anões aaahhh…” Suspirou, “os sete anões…”.
Cada vez que a avozinha falava naqueles malditos anões ela fixava estranhamente o infinito, batia os maxilares uns nos outros parecendo castanholas. Não sei como fazia tanto barulho, afinal não tinha dentes. Meia hora depois regressou daquele estranho transe quase extático, e continuou:
“…quando ouvi vindo do alto do sótão três leves pancadinhas que abanaram as estruturas da casa: BOOM BOOM BOOM!! Levantei-me agilmente e digo agilmente pois já tinha sido operada ao meu joelho. Puseram-me um joelho clonado de uma ovelha, que até funcionava muito bem. E fui ver o que se passava. Levantei devagarinho a portinhola e espreitei com o meu olho bom.
Uma senhora linda de fato de banho vermelho com uma tatuagem a dizer Tommy Lee Beat-Me! Esperava por mim sentada no meu velho baú que continha todas as minhas posses: um dedal, uma caderneta de cromos do He-Man e o meu fato de Bat…, a Spank-Girl super-heroína! Falo-vos disso noutro dia.
Entrei no sótão de bastão em punho (sim, aquele lindo bastão já a acompanhava) e perguntei: Quem és tu? O que fazes aqui? Calma, respondeu a jovem, eu sou a tua Fada Madrinha.
Desconfiada, porque gostava daquele fato de banho vermelho, e como o meu bastão se chama Tommy Lee, dei-lhe com ele na cabeça. PAF!! PAF!! PAF!! PAF!! PAF!! PAF!! PAF!! PAF!! PAF!! e PAF!! Calma, calma, eu sou a tua Fada PAF!! Madrinha. Olha para o meu cartão de sócia. O cartão dizia Pamela Anderson: Playmate, nadadora salvadora e fada madrinha em part-time.
Acreditei imediatamente nela. Desculpa Fada Madrinha! Desculpa, não passo de uma miserável lavadora-de-chão-heroina-em-part-time-fumadora-de-hahatchim.
Não faz mal minha querida, respondeu ela. Venho realizar-te três desejos. Diz-me o que queres.
Então eu pensei, pensei e pensei e lembrei-me do que mais queria:
O meu primeiro desejo é casar-me com o meu amado, o homem-ovo, o meu querido Riqegg Lesias.
E assim foi, ela casou-se com o Riqegg Lesias, o homem-ovo. Foram muito felizes até ao dia em que tinha muita fome e rachou-o com o bastão Tommy Lee para fazer uma deliciosa omoleta. A avozinha nunca sabe se é delicioso ou não pois certo dia ao abrir uma garrafa de vinho com a boca, ficou com a rolha presa a apodrecer lentamente na cavidade bocal. Por isso tudo lhe sabe a cortiça.
O meu segundo desejo é: quero que os meus dois joelhos fiquem bons. De imediato ficou com ambos os joelhos clonados de ovelha.
O meu terceiro dejes...
“Avozinha, tenho fome!” – Interrompeu o Jaime, e PAF!! Comeu logo!!
O meu terceiro desejo é...é......... e nunca mais se decidiu.
A Pamela esperou sentada durante muitos anos em cima do velho baú no sótão da avozinha, até que a avozinha se mudou, e ela alugou o apartamento do lado, onde ainda espera que a avozinha se decida.
Assim são as velhas histórias da avozinha. Alegres ou não, mas sempre genuínas. Quando ela acabou, todos estávamos a lutar contra o sono porque o Tommy Lee estava eternamente vigilante, mesmo com o cheiro nauseabundo que se espalhava debaixo da cama. A avozinha levantou-se do cadeirão, béééééé, fizeram os joelhos, aproximou-se de cada um de nós e com o seu hálito mortal, envolvido por moscas e aquela famosa sandes de atum de 1815, beijou-nos carinhosamente os galos da testa e deixou-nos adormecer em paz.

O moral da história é que fada que é fada dá e não pede nada… ou qualquer coisa do género
Filipe

quinta-feira, junho 23, 2005

Internet vs Mensagens

da porta da casa de banho…

Quando falamos com a avozinha acerca do blog há dois anos ela mostrou-se de início um pouco resistente à ideia, e os seus argumentos na altura não foram fáceis de refutar.
Ela ouviu com atenção a nossa ideia, e depois, por entre a tosse convulsa começa ela calmamente no seu sábio tom de James Earl Jones:
Meus meninos, temos de admirar os Americanos. São um povo muito evoluído, sempre um passo á frente da cabeça, mas também, essa é fácil de transportar. Até as galinhas o fazem, mas as galinhas ao menos servem para fazer um bom arrozinho. Mmmhhh… está-se-me a dar uma fome!
Nisto a sombra da Avozinha deixa de ser visível aos nossos olhos destreinados, tão cheios de fumo carbónico causados pelo lento queimar dos móveis ao serem consumidos pelas chamas da “lareira”.
Nem segundos passam e eis que surge do nada a sombra, a mesma que nos sossega os corações, sentando-se com a avozinha, no seu peculiar divã, composto por quatro paus e um pano a segurar.
Por entre os murmúrios, percebemos algo parecido com: ”…jantar já cá canta, ou melhor, agora é que não canta mais!”
Hmmm onde é que eu ía? há, já sei, estava a falar da evolução dos americanos. São tão evoluídos que tiveram a inteligência de separar as suas Américas. Assim é mais fácil a orientação, ou para cima ou para baixo.
Mas vejam lá, não percebo a ideia de utilizar essa coisa da “internet”, para mandar mensagens uns aos outros!!!
Sinceramente, dá-me vontade de lhes chamar nomes. Asdrúbal, Ezequiel, Petúnio, Sebastião (este fez-me lembrar um pessoa famosa, que se perdeu, acho que as luzes do nevoeiro tinham fundido – mas isso fica para outra história).
Já não existe a proximidade, aquele aperto que faz escrever palavras sem sentido, o cheirinho a horta acabada de estrumar, aquele incómodo de alguém estar ao lado e soltar um sonsinho “à carro de polícia”.
Ainda não percebo o sucesso de tal coisa. Nós aqui, neste cantinho do planeta é que estamos bem, qual “internet" qual quê. Não há nada como as famosas mensagens das casas de banho. Isso sim é arte, isso sim é comunicação verdadeira! Roam-se de inveja.
Aí é que se vê o amor pelas pessoas. Não há nada como aquelas mensagens de correspondência entre homem e mulher, entre homem e homem. De vez em quando até com os animais falam, querido para aqui e para acolá, que amoroso. Isso sim é sinceridade.
Até existe prestação de serviços e tudo. Qual centro de emprego qual quê! Pessoas a oferecerem-se para malhar o milho com porrada, naifadas nos tomates, murros nas tronchas. Agricultura! Coisas dessas são o que interessa ao povo!
Decorações variadas, ao gosto de cada um. Aquilo a que eles agora querem chamar de mensagens personalizadas, sendo a única verdade é que o castanho combina com muita coisa, até com azulejos. Deve dar um trabalho dos diabos, pintar tudo assim. Mas também se virmos bem, é uso de material de fácil decomposição. O fim do gel é o início das permanentes!!!
Ai que saudades dos tempos das estações de comboio. Aí é que era serviço de primeira classe. O banco da casa de banho já estava quentinho e forradinho, água nunca faltava na sanita. Pelo menos no chão havia muita. É verdade que era um bocado amarela, mas toda a tecnologia tem o seu custo.
Já estava tudo previsto. Imaginem só que até existia a escrita inteligente. Um ditava e o outro escrevia. A única desvantagem era o espaço, ficava-se um pouco apertado. Se bem que poderia dar asas para outras mensagens mais corporais!
Tínhamos sempre ligação, nem que ficasse a boiar por alguns tempos, alguém perto ou a quilómetros de distância sempre recebia a mensagem. Infalível!
Como podem ver, as tecnologias da nossa terrinha, que podem não ser de ponta, funcionam, e se vocês querem espalhar a minha sabedoria talvez devessem utilizá-las, afinal casas de banho há em todo o lado e não é necessária linha telefónica nem computador para se aceder.


No fundo é como dizia a avozinha: Seguide os pássaros reais pela sua sombra até chegardes a caminho seguro. Ou seja, quanto mais pequena a sombra mais alto o pássaro e já sabem que a ave que voa mais alto é a que mais gente suja.
Jaime

sexta-feira, junho 17, 2005

Falemos um pouco sobre a avozinha...

Estava aqui a indagar sobre qual o primeiro tema a escolher para expor aqui no blog, por entre a míriade de conhecimentos adquiridos ao longo de todos estes anos pela convivência com a minha avozinha, quando me dei conta que o melhor mesmo era para dar-vos a conhecê-la.
Comecei a pensar nela e deu-me logo a volta ao estômago, só de me lembrar de um desses saudosos dias sentado à lareira com ela, se bem que ela não tinha mesmo uma lareira. Ela limitava-se a acender uma fogueira no meio da sala e abria as janelas do seu apartamento no quinto andar, e assim todos os netinhos se podiam sentar em redor da mesma, o que no caso de uma lareira real é impraticável.
Uma altura até lhe cheguei a perguntar se aquilo não era perigoso, quando vi o pé do Filipe a arder, e o fogo a alastrar para os cortinados, ao que ela me respondeu calmamente na sua voz fanhosa e meia cuspida, pois não tinha dentes, que perigoso era saltar à corda descalço em cima de cacos de vidro num chão borrifado com álcool, para quem não tivesse uma técnica suficientemente desenvolvida. Com tal argumento, decidi calar-me, inspirar aquele cheiro rançoso das tábuas do soalho a arder, enquanto ela batia com a vassoura de palha ora no pé do Filipe, ora no cortinado, para apagar as chamas, e esperar por uma história qualquer onde ela continuaria a demonstrar-nos todo o seu saber milenar, se bem que ela na altura tinha apenas setenta anos.
Nesse mesmo dia ela surpreendeu-nos a todos com algo que jamais me esquecerei até hoje, embora agora não esteja a ver bem o que foi.
Ela falava sobre qualquer assunto sem qualquer pudor ou embaraço e expunha perante aquele esfaimado grupo de crianças (sim ela nunca nos dava de comer durante o tempo que passávamos em casa dela, e reparem que chegamos a ficar com ela semanas inteiras), com os olhos a brilhar, esperando no lugar de um qualquer pedaço de broa bolorenta e dura, mais uma pérola do seu vasto conhecimento sobre o mundo e todas as coisas à sua face, bem como no seu interior e até mesmo, reparem, do infindável universo, que ela um dia nos explicou ficar apenas a dois quarteirões do seu apartamento.
Num outro dia, para nos espantar, enaltecer e mesmo deixar enrubescidos e alguns mesmo entumecidos (o Miguel e o Patrício) decidiu falar de algo cujo conteúdo era considerado adulto e por conseguinte inadequado a crianças de tão tenra idade.
Começou como sempre, entreabriu os seus lábios encarquilhados e cheios de herpes e perguntou:
Algum de vocês sabe, qual a importância da forma de reprodução das formigas do Kilimanjaro para o desenvolvimento da economia dos Cárpatos?
Quando acabei de ouvir tal questão foi como se o mundo se tivesse abatido sobre mim, e lembrei-me da altura em que eu quis ver esse programa na televisão e a minha mãe me pôs de castigo a ver os teletubies todos os dias durante um ano, e saiu logo de seguida de casa a correr para a igreja a chorar e acabou atropelada porque não conseguiu ver a bicicleta do Ti Manel que se aproximava a grande velocidade. Tudo ficou bem, apesar do meu pai ainda estar a pagar até hoje o concerto do muro onde eles e a bicicleta acabaram por chocar.
Mas a minha avozinha não, não se fez rogada pois achava que nós devíamos conhecer esses assuntos que nos preparariam para uma vida futura com todos os predicados necessários.
A minha avó era uma mistura de pescador com monge tibetano, pois na maioria das vezes não percebíamos bem o que ela queria dizer com algumas coisas, tal a sabedoria imbuída no seu discurso, bem como a voz grossa do catarro provocado pelos imensos charutos e Kentucks que fumava, já para não falar do tabaco que mascava incessantemente com as suas gengivas esverdeadas, e também por causa do mau cheiro e da calvice de que começava a padecer.
Ela falava inglês e outras línguas também, pelo menos, era o que nos parecia ouvir, quando a língua meia roxa, meia azul aparecia fora da boca e ficava pendurada num canto a pingar baba, e o cuspe voava até à cara dos netos no lado oposto da fogueira e ás vezes mesmo aos que estavam ao lado, e que os mais novos não conseguiam decifrar, mas que para os mais crescidos como eu já faziam todo o sentido, como sendo coisas importantes tipo: “May the force be with you”, ou “The Philadelphia experience was successfull”, “Einstein was an asshole”, “Marie Curie est trés jolie”, e podia quase dizer que a ouvi falar alemão, se quando o fez, ela não tivesse uma batata quente na boca, o que me impede de afirmá-lo, embora “achtung” e “scheisser” me parecessem claramente audíveis no seu pomposo discurso. Mas enganam-se aqueles que pensam que ela nos traduzia tais frases, mais uma vez a sua astúcia se sobrepunha, enquanto revirava aqueles olhos vesgos e vidrados como quem diz: “quem percebeu, percebeu, quem não percebeu que descubra por si.” E era assim o caminho para a sabedoria segundo a avó.
Aprendi com ela os malefícios do álcool quando nos demonstrou pessoalmente que beber um garrafão de tinto “de penálti” podia deixar-nos completamente inconscientes. E assim, uma vez mais, sem qualquer vergonha ou pudor, após o último gole ficou ali estendida de pernas abertas no meio do chão a verem-se os culotes. Eu sei que ela estava a fingir para impressionar os mais novos, mas ninguém fingia tão bem como ela, pois conseguiu ficar assim imóvel um dia inteiro sem se esquecer depois de falsear uma tremenda ressaca e a perda de memória do sucedido. Deviam ter visto: simplesmente fantástico! Nem a Meryl Streep o faria tão bem sem efeitos especiais de Hollywood.
Mas isto é a parte da diversão, “jogos com as crianças” como ela explicava alegremente aos nossos pais quando estes nos iam buscar a sua casa.
A parte do conhecimento era bem mais interessante, como a vez em que ela nos explicou a verdade por trás de assuntos como a teoria da relatividade, mecânica quântica, extra-terrestres, preconizando até a existência da série o sexo e a cidade, bem como inspirou outros primos nossos na criação de filmes baseados em histórias verídicas como o Mátrix e As Pontes de Madison County, entre muitos outros.
Bons tempos, é verdade…
Não tínhamos televisão nem dinheiro para ir ao cinema ou comprar livros de BD, nem sequer sonhar com jogos de computador, mas tínhamos a avó, que apesar de não ter dentes, só dizia coisas importantes.
Para não vos maçar, vou terminar por aqui esta apresentação que serviu apenas para ficarem com a ideia (vaga, é verdade) do esplendor desta maravilhosa criatura.
Mais pormenores serão acrescentados ao longo do tempo, quer por mim quer pelos seus outros netos que se juntaram a mim na criação deste blog em sua memória, pois ela infelizmente, já não se encontra entre nós…
Partiu o ano passado no expresso para visitar uns parentes afastados, muito afastados mesmo, penso que na galáxia de Andrómeda ou Cassiopeia, mas mesmo assim vai enviando uns emails e já a cheguei a encontrar on-line num chat onde ainda trocamos umas impressões sobre os conteúdos que podem ser aqui publicados, ou sejam, os que não a afectem pessoalmente, coisas tipo onde ficam as minas de Salomão e a identidade secreta do Batman.
Paulo
Para já deixo-vos, e como costumava dizer a avozinha e como me lembra o Jaime: "que a força vos guie, ou alguém vos empurre, para temos a certeza que caem..."

quarta-feira, junho 15, 2005

O Porquê do Blog...

As pessoas podem perguntar-se porque existe isto e aquilo, e até quem sabe porque é que isto é assim e aquilo é talvez assado, frito ou torrado.
Ora bem, mesmo correndo o risco de desfazer mitos ou enganos de infância decidimos aqui responder a muitas das questões existenciais do género porque é que o boi corre para trás quando a vaca está a pastar num passeio de cimento num qualquer bairro degradado, completamente dominado por extraterrestres luminosos com antenas lustrosas, ou até mesmo elucidar-vos acerca do que é que raio é aquela coisa do Gato do Schrodinger, que vos posso adiantar desde já que não era mesmo um gato, mas isso, poderão confirmar pelas provas apresentadas num post futuro e ver com os vossos próprios olhos, ou se preferirem com os de outros…
Para terminar esta apresentação, queremos apenas salientar que tudo o que aqui é publicado é a mais pura das verdades, sem censuras, ou cedências a pressões de poderes superiores ou inferiores, mas sim com o apoio dessa grandiosa e sapiente personalidade que é a avozinha que tudo sabe e finalmente tudo revela.
Fiquem atentos porque "eles andem por aí..."
Paulo, Jaime & Filipe