terça-feira, outubro 17, 2006

Arca do Num é

Era um daqueles dias em que não arranjávamos nada para brincar. Ao Paulo não se podia dizer nada pois ainda se queixava das costas, o Filipe andava outra vez com o pensamento no Robim. Andávamos então pela casa à procura de algo novo (pelo menos até partir ou até a avó nos chegar a mão no pêlo!) quando passamos pelo quarto da avó e reparamos que a sua arca estava entreaberta. É claro que fomos imediatamente coscuvilhar feito beatas. Das primeiras coisas a ressaltar à vista era o seu disfarce de Ba…, nem consegui acabar, o Filipe deu-me um pontapé nas canelas e ao baixar-me para expressar a minha dor (reacção mais que normal para quem sofre uma agressão do género) dou uma cabeçada mesmo em cheio na mona do Paulo. PAFT, ficou estatelado no chão. Estalos após pontapés lá recuperou.
- Possa, dói-me o corpo todo! O que se passou?
- Nada, nada, … tão de repente estavas aqui em cima como foste parar aí a baixo, e nós aqui a olhar para ti feito parvos! Até pensamos que podias estar a fazer algum tipo de ritual ou isso! Dissemos nós.
Bem, … por debaixo desses trajes carnavalescos, estavam uns livros muito esquisitos. Pareciam que estavam polvilhados a açúcar. É claro que tivemos que tirar a prova dos nove, mas como só estávamos três e faltavam seis, noves fora três dos seis que faltavam sobravam três, e ficamos outra vez com seis, …, hhhmmm…, é isso, é melhor usar o método do nariz. É infalível. Lá cheiramos os pozinhos do livro como a avó nos tinha ensinado, “… é isso mesmo netinhos, quero uma linha perfeitinha!”, e reparamos que afinal era só o cházinho da avó. Um saco deve ter rebentado pois estava por todo o lado. Às tantas era por isso que a avó e a Pamela saíam muitas vezes do quarto a rirem-se desalmadamente.
Nisto ouvi um murmúrio. Mal se percebiam as suas palavras de tão pianinho que vinha. “… aquiiiii …” (pronunciado muito ao de leve. Como se tivesse sido escrito com um lápis número 9H daquelas da Faber-Castell. Ou seja, levezinho!)
- Ui, vocês ouviram isto? Queres ver que o livro está a falar connosco? Estava perplexo comigo mesmo de como isso seria possível.
- Não pá! Já estás é a ouvir coisas. Eu cá não ouvi nada! Vi foi passar um elefante cor-de-rosa, mas acho que se tinha borrado pois levava uma coisa castanha atrás! O Paulo já mandava os seus bitaites.
- Então deve ter sido ele que calcou a Sereia? Contrapôs o Filipe.
- Vocês já estão é pior do que eu! Estava zangado por ninguém me ligar nenhum. Decidi então investigar. Pus-me à escuta e reparei que o misterioso som vinha era do fundo do baú. Tst…, o livro a falar para mim. Não me digas que também acreditas no Pai Natal, Jaime! … Foi aí que fiquei pensativo e com medo, … muito medo, … era mas é melhor seguir em frente. Comecei a tirar a tralha da avó e nisto reparo que no fundo da arca, mesmo lá no fundinho, fundinho de todo, lá no horizonte, vi um homem todo maltrapilho com uma barba enorme, que lhe cobria o corpo todo (dissemos homem pois foi o que depreendemos pelo facto de ter barba. Pode ser um factor irrelevante se pensarmos naquelas senhoras que mostram mais masculinidade que certos indivíduos masculinos).
- Hei palhaços, venham ver isto! Ficaram todos estupefactos com o achado. Olá, como é que te chamas?
No meio daquela confusão toda, pó pelo ar, barba por todo o lado, lá se percebeu qualquer coisa.
- Num é. Disse o homem da arca.
- Mas o que é que num é? Perguntou o Filipe, ansioso. Diz lá mas é qual é o teu nome?
- Num éee.
- Oooohhhh. Estamos aqui a brincar ou como é caral#$*? Disse eu já furioso das ventas. Qual é o teu nome? Estás a armar-te em espertalhão é?
- Nuuum éee.
O Paulo, farto daquilo tudo, já sem vontade de aturar o gajo, arrancou-me o livro das mãos e ZÁS, atirou-o acertando-lhe mesmo na cabeça, o Filipe pensando que era um jogo pegou em alguns peluches que estavam por lá perdidos, começou a atirar também e eu juntei-me a eles, a atirar girafas, ursos, camelos, cobras, elefantes, pandas, ornitorrincos (é um género de mamíferos monotrématos da Austrália com um focinho semelhante ao bico de um pato), etc.Entretanto chegou a Pamela e atirou a pomba! E TUNK, fechamos a arca, e encolhendo os ombros fomos embora.

Jaime