sábado, julho 08, 2006

Aniversário

Podia ter sido mais um dia como os outros em que tudo corre normalmente na casa da avó. Bem…, quer dizer…, pelo menos conforme já nos tínhamos habituado, caso não fosse O Dia. Era Dia de festejar um aniversário. Digo um aniversário pois a confusão instalada na altura foi tanta que já nem sei quem é que apagou as velas, quem pediu o desejo, quem comeu o bolo com a cara nem quem levou com a rolha. Levou com a dita rolha pois eu bem tinha dito ao Filipe, ainda me lembro como se tivesse sido ontem, – ouvi dizer que se puseres um dedo por trás ela não salta. Ele bem pôs o dedo mas não sei bem onde, pois a rolha acabou mesmo por saltar. O engraçado é que só vi o Filipe a dar um saltinho, o suficiente para conseguir desviar-se a tempo. O Paulo ainda conseguiu dar-lhe uma cabeçada, indo ter direitinha ao cinzeiro da Pamela, só não tinha é reparado que a rolha vinha com a armação toda. Ainda ficou com as letras Champoomixe gravadas na testa por algum tempo. Prestável como sou, fui logo a correr buscar a rolha para pôr na reciclagem, mas a pressa foi tanta que dei por mim a entalar o pé entre uma fissura do azulejo da cozinha e a cair direitinho com a cara no cinzeiro da Pamela (ou por outras palavras, consegui escorregar numa migalha que se encontrava precisamente no sítio estratégico para levar a cabo o meu plano, que era o de atingir aquela prateleira magnífica. Tst…, tolices.). Até tinha corrido bem caso eu não tivesse aberto a boca, é que a rolha ainda custou uns dias a sair. Para não falar da despesa que foi ao comprar uma sanita nova, devido ao buraco com que ficou resultante da expulsão do raio da rolha. Bem…, mas passando estes pormenores ao lado, a avó tinha finalmente terminado o seu bolo.
- O bolo especial está prontinho, vamos então festejar. Quem traz as velas?
- Eu vou buscar. Disse o Paulo. Onde é que estão!
- Estão aí na gaveta do quarto da avó, disse eu com a voz abafada devido a ter a cara mergulhada noutros assuntos.
- Onde?, não percebi o que dissestes?, há, já as vi.
O Paulo veio então com as velas e colocou-as no bolo, acendendo-as de seguida. Reparamos foi que estas tinham um feitio diferente, eram banhadas de um vermelho vivo e no seu topo pendia um pavio de um preto esquisito, que cada vez mais se afundava. Eram as velas especiais que a avó usava para desentupir os canos. Sabem como é, os pelos vão-se acumulando e acumulando até entupir, e depois começam a enrolar-se pelo ralo e a entrar casa a dentro agarrando-nos pelas pernas. Parece que têm vida. Logo, à que cortar o remédio pela raiz. BUUUMMM neles todos, receita infalível da avozinha.
Era tarde demais para voltar atrás, o rastilho estava a terminar o percurso, vinha aí o dia do juízo final. No entanto, passiva a isto tudo estava quem? A avó, quem mais, rindo-se feito uma perdida já com cataratas nos olhos de tanto rir. BBBUUUMMM, o bolo tinha rebentado. Nós já a ver a nossa alma branquinha a pairar pelo ar, mas não, eram pedaços de bolo que vinham na nossa direcção a toda a velocidade. Era bolo por todos os lados. Ficámos completamente vestidos a rigor de bolo. Olhámos uns para os outros, sem perceber o que se tinha passado. Nisto, a avó vira-se para nós:
- SURPRESA!!!...

Jaime

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