quinta-feira, junho 23, 2005

Internet vs Mensagens

da porta da casa de banho…

Quando falamos com a avozinha acerca do blog há dois anos ela mostrou-se de início um pouco resistente à ideia, e os seus argumentos na altura não foram fáceis de refutar.
Ela ouviu com atenção a nossa ideia, e depois, por entre a tosse convulsa começa ela calmamente no seu sábio tom de James Earl Jones:
Meus meninos, temos de admirar os Americanos. São um povo muito evoluído, sempre um passo á frente da cabeça, mas também, essa é fácil de transportar. Até as galinhas o fazem, mas as galinhas ao menos servem para fazer um bom arrozinho. Mmmhhh… está-se-me a dar uma fome!
Nisto a sombra da Avozinha deixa de ser visível aos nossos olhos destreinados, tão cheios de fumo carbónico causados pelo lento queimar dos móveis ao serem consumidos pelas chamas da “lareira”.
Nem segundos passam e eis que surge do nada a sombra, a mesma que nos sossega os corações, sentando-se com a avozinha, no seu peculiar divã, composto por quatro paus e um pano a segurar.
Por entre os murmúrios, percebemos algo parecido com: ”…jantar já cá canta, ou melhor, agora é que não canta mais!”
Hmmm onde é que eu ía? há, já sei, estava a falar da evolução dos americanos. São tão evoluídos que tiveram a inteligência de separar as suas Américas. Assim é mais fácil a orientação, ou para cima ou para baixo.
Mas vejam lá, não percebo a ideia de utilizar essa coisa da “internet”, para mandar mensagens uns aos outros!!!
Sinceramente, dá-me vontade de lhes chamar nomes. Asdrúbal, Ezequiel, Petúnio, Sebastião (este fez-me lembrar um pessoa famosa, que se perdeu, acho que as luzes do nevoeiro tinham fundido – mas isso fica para outra história).
Já não existe a proximidade, aquele aperto que faz escrever palavras sem sentido, o cheirinho a horta acabada de estrumar, aquele incómodo de alguém estar ao lado e soltar um sonsinho “à carro de polícia”.
Ainda não percebo o sucesso de tal coisa. Nós aqui, neste cantinho do planeta é que estamos bem, qual “internet" qual quê. Não há nada como as famosas mensagens das casas de banho. Isso sim é arte, isso sim é comunicação verdadeira! Roam-se de inveja.
Aí é que se vê o amor pelas pessoas. Não há nada como aquelas mensagens de correspondência entre homem e mulher, entre homem e homem. De vez em quando até com os animais falam, querido para aqui e para acolá, que amoroso. Isso sim é sinceridade.
Até existe prestação de serviços e tudo. Qual centro de emprego qual quê! Pessoas a oferecerem-se para malhar o milho com porrada, naifadas nos tomates, murros nas tronchas. Agricultura! Coisas dessas são o que interessa ao povo!
Decorações variadas, ao gosto de cada um. Aquilo a que eles agora querem chamar de mensagens personalizadas, sendo a única verdade é que o castanho combina com muita coisa, até com azulejos. Deve dar um trabalho dos diabos, pintar tudo assim. Mas também se virmos bem, é uso de material de fácil decomposição. O fim do gel é o início das permanentes!!!
Ai que saudades dos tempos das estações de comboio. Aí é que era serviço de primeira classe. O banco da casa de banho já estava quentinho e forradinho, água nunca faltava na sanita. Pelo menos no chão havia muita. É verdade que era um bocado amarela, mas toda a tecnologia tem o seu custo.
Já estava tudo previsto. Imaginem só que até existia a escrita inteligente. Um ditava e o outro escrevia. A única desvantagem era o espaço, ficava-se um pouco apertado. Se bem que poderia dar asas para outras mensagens mais corporais!
Tínhamos sempre ligação, nem que ficasse a boiar por alguns tempos, alguém perto ou a quilómetros de distância sempre recebia a mensagem. Infalível!
Como podem ver, as tecnologias da nossa terrinha, que podem não ser de ponta, funcionam, e se vocês querem espalhar a minha sabedoria talvez devessem utilizá-las, afinal casas de banho há em todo o lado e não é necessária linha telefónica nem computador para se aceder.


No fundo é como dizia a avozinha: Seguide os pássaros reais pela sua sombra até chegardes a caminho seguro. Ou seja, quanto mais pequena a sombra mais alto o pássaro e já sabem que a ave que voa mais alto é a que mais gente suja.
Jaime

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