Céu e Inferno
Um dia tremendo do meu lábio superior direito tive a audácia de perguntar à minha avozinha se aquela história, que a mamã me tinha contado, de os bons irem para o céu quando morrem e os maus para o inferno, era mesmo assim.
Ela olhou-me nos olhos e respondeu-me com outra pergunta: “Queres mesmo saber?”
Eu acenei timidamente com a cabeça enquanto ela olhava para mim passando a língua pelos lábios para depois responder: “Não!”
Depois abraçou-me com força, ou talvez estivesse apenas a tentar tirar-me do caminho para se dirigir para o outro lado da sala. Tanto é que se a memória não me falha, acho que ela chegou mesmo a passar-me por cima, daí esta marca de tamanco que tenho até hoje na cara.
Depois de bem atestada, desapareceu para a sua batcav…, mmmm, bem, foi buscar um DVD muito antigo já todo carcomido e arrancando-me do chão, arrastou-me até à sala e apontou com o seu dedo mecânico, indicando-me que devia colocá-lo no leitor.
Enquanto passavam as apresentações, perguntou-me: “Que tal umas passas?” Achei estranha a pergunta, pois não era Natal nem passagem de ano, mas acenei com a cabeça afirmativamente.
Ela lá deve ter mudado de ideias pois começou a enrolar dois cigarritos do seu maravilhoso chá seco, acendeu-os na fogueira e deu-me um. Suguei o fumo e comecei a tossir tanto que tenho a impressão que um pulmão chegou a tocar-me as amígdalas.
Entretanto apareceu a Pamela (ela nessa altura já vivia no apartamento do lado) para pedir um bocadinho de chá. A coitadinha tinha muitas dores, e passava noites e noites aos berros. Chegavam mesmo a ir lá vários médicos à noite para tratar dela, só que quantos mais iam, mais ela berrava.
A avó disse que só lhe dava chá, se a Pam lhe lavasse os pés à noite. Depois de muito discutirem, lá chegaram a acordo e a avó disse que se ela fizesse um bom trabalho lhe dava também um saquinho de leite em pó. Eu gostava de fumar o chá, mas num dia que a avó estava no ginásio bebi um bocado do leite e fiquei muito doente, e se não fosse o dragão que passou por lá com a bela adormecida (que já agora aviso que bela só a fita que trazia no cabelo) podia ter ficado muito mal – com soltura (leia-se: diarreia) ou pior.
A avó deu-me uma cachaçada para que eu olhasse para a TV, e lá, estava um gajo com asas a jogar ao berlinde com outro todo vermelho e com cornos.
Ás tantas, o das asas bate com a mão na testa e diz: “Raios! Perdi outra vez! Quantos é que tenho que mandar para cá?”
Entretanto a fita do DVD lá deve ter enrolado dentro do leitor e não consegui ver mais nada, o que me podia ter deixado bastante chateado, se não fosse a pantera cor-de-rosa ter-me convidado para jogar xadrez.
Mais tarde reflecti sobre o assunto e não tenho a certeza de ter percebido a explicação, mas, por via das dúvidas nunca mais joguei ao berlinde e aconselho todos a evitá-lo. E digo mais: o nos contam sobre o céu e o inferno é mentira, ai isso é, porque se a avozinha diz, é porque é verdade, ou como ela também costuma dizer quando há dúvidas:
Rouxinol que voa de galho em galho é como um macaco preso no alcatrão.
Ela olhou-me nos olhos e respondeu-me com outra pergunta: “Queres mesmo saber?”
Eu acenei timidamente com a cabeça enquanto ela olhava para mim passando a língua pelos lábios para depois responder: “Não!”
Depois abraçou-me com força, ou talvez estivesse apenas a tentar tirar-me do caminho para se dirigir para o outro lado da sala. Tanto é que se a memória não me falha, acho que ela chegou mesmo a passar-me por cima, daí esta marca de tamanco que tenho até hoje na cara.
Depois de bem atestada, desapareceu para a sua batcav…, mmmm, bem, foi buscar um DVD muito antigo já todo carcomido e arrancando-me do chão, arrastou-me até à sala e apontou com o seu dedo mecânico, indicando-me que devia colocá-lo no leitor.
Enquanto passavam as apresentações, perguntou-me: “Que tal umas passas?” Achei estranha a pergunta, pois não era Natal nem passagem de ano, mas acenei com a cabeça afirmativamente.
Ela lá deve ter mudado de ideias pois começou a enrolar dois cigarritos do seu maravilhoso chá seco, acendeu-os na fogueira e deu-me um. Suguei o fumo e comecei a tossir tanto que tenho a impressão que um pulmão chegou a tocar-me as amígdalas.
Entretanto apareceu a Pamela (ela nessa altura já vivia no apartamento do lado) para pedir um bocadinho de chá. A coitadinha tinha muitas dores, e passava noites e noites aos berros. Chegavam mesmo a ir lá vários médicos à noite para tratar dela, só que quantos mais iam, mais ela berrava.
A avó disse que só lhe dava chá, se a Pam lhe lavasse os pés à noite. Depois de muito discutirem, lá chegaram a acordo e a avó disse que se ela fizesse um bom trabalho lhe dava também um saquinho de leite em pó. Eu gostava de fumar o chá, mas num dia que a avó estava no ginásio bebi um bocado do leite e fiquei muito doente, e se não fosse o dragão que passou por lá com a bela adormecida (que já agora aviso que bela só a fita que trazia no cabelo) podia ter ficado muito mal – com soltura (leia-se: diarreia) ou pior.
A avó deu-me uma cachaçada para que eu olhasse para a TV, e lá, estava um gajo com asas a jogar ao berlinde com outro todo vermelho e com cornos.
Ás tantas, o das asas bate com a mão na testa e diz: “Raios! Perdi outra vez! Quantos é que tenho que mandar para cá?”
Entretanto a fita do DVD lá deve ter enrolado dentro do leitor e não consegui ver mais nada, o que me podia ter deixado bastante chateado, se não fosse a pantera cor-de-rosa ter-me convidado para jogar xadrez.
Mais tarde reflecti sobre o assunto e não tenho a certeza de ter percebido a explicação, mas, por via das dúvidas nunca mais joguei ao berlinde e aconselho todos a evitá-lo. E digo mais: o nos contam sobre o céu e o inferno é mentira, ai isso é, porque se a avozinha diz, é porque é verdade, ou como ela também costuma dizer quando há dúvidas:
Rouxinol que voa de galho em galho é como um macaco preso no alcatrão.
Paulo
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