quinta-feira, agosto 04, 2005

Róbim, o Gato das Botas

Hoje vou falar-vos de um animal de estimação que a avó teve durante vários anos, o gato de nome Róbim.
Nos primeiros tempos, o gato era branquinho, e como foi confundido com uma gata, chegou a chamar-se Branca de Neve, mas descoberto o equívoco, mudou-se para Róbim, vá-se lá perceber porquê.
Por ser fofo e branquinho como o algodão, a avó achou que ele podia ter muitos usos, nomeadamente de limpeza, até porque não largava pêlo. Passado algum tempo escureceu (assim que o Sol se pôs), até ficar completamente castanho e ressequido. Ela decidiu lavá-lo, colocando-o na máquina de lavar mas como ele arranhava muito o vidro, obrigou-a a optar pelo método manual, e depois de tanto o esfregar com a escova de aço, conseguiu apenas que ele ficasse assim listrado como o conhecem e com os olhos esbugalhados. Eu desconfio que isso dos olhos se deve a ter estado a brincar um dia inteiro sozinho com o Filipe, até porque nos dias que se seguiram, quando se encontravam, o animal afastava-se dele em marcha-ré. A verdade é que o tempo cura tudo, e lá ficaram amigos, e o Róbim até já ia para o seu colo espontâneamente, sendo até difícil removê-lo de lá.
O que ninguém percebeu, foi porque razão o gato foi ficando com as patas meio reviradas para fora, até que a avó não teve outro remédio senão comprar-lhe umas botas ortopédicas para que ele corrigisse o andar.
E isto foi o início do fim: Ele gostou tanto das botitas que se recusava a descalçá-las, mas a avó, devido aos seus antecedentes orientais, não permite que ninguém entre calçado dentro de casa, o que às vezes provocava intoxicações de fragrância ultra-concentrada de queijo no bairro.
Pela teimosia das botas, ou porque ele urinava pelos cantos, ela acabou por expulsá-lo. Era um bedum que não se podia!!! Ela ao início tentou desculpá-lo dizendo que era natural a marcação de território. E que marcação! De minha casa sentia-se o cheiro! Mas isso podia dever-se ao facto de ele me ter urinado também na perna, ou teria sido o Jaime?
A avó um dia até lhe fez um fatinho para tentar reter aquela tendência urinante. Era um fatinho de elastano (licra, para os ignorantes), com cuequinha (que não sei porquê, vestiu por cima das calças), e pôs-lhe até uma toalhita nas costas. Mas a verdadeira “piece de résistence” (chamava-lhe assim, porque acho que tinha mandado vir da frança) era o R estilizado que lhe bordou no peito, e que ele exibia com todo o orgulho.
Eles faziam uma dupla super-engraçada. O duo dinâmico; foi assim que nós passamos a chamar-lhes quando os começamos a ver descer desgovernados a alta velocidade a rua no seu carrinho de rolamentos, a que ela chamava de bat… otomobile (era para dar um ar italiano). Tantas vezes se estampavam contra os muros e ficavam com os ossos partidos, os olhos pendurados e as tripas de fora… hahaha, que saudades… tantas vezes lhe dissemos que os air-bags que tinha não chegavam… tinha que pôr no carro também, e já agora, porque não, meter travões!!! Mas se não quisesse gastar dinheiro aí, ao menos nas descidas que não dissesse ao gato para empurrar, que aquilo ganhava cá uma bolina que obrigava às vezes ao Róbim cravar as unhas nas suas costas para não cair (a sorte é que ela já estava habituada) e mesmo assim o coitado lá ia pendurado a bater com os tintins naqueles paralelos bicudos da estrada (TIM! TIM! TIM! TIM! TIM! TIM! TIM! TIM!) até ficarem esparramados numa parede qualquer.
É claro que a avó lhe tratava sempre dos ferimentos, limpando tudo muito bem com álcool.
Ah… A avó e o Róbim eram grandes amigos, e ainda são… penso que ainda se escrevem até hoje…
E não se preocupem com o Róbim, que segundo sei, está bem, e de saúde, pois ele sempre foi um prodígio (e ainda o é). Ouvi dizer que transformou um jovem plebeu em Marquês, e à conta disso conseguiu um papel num blockbuster de animação onde contracena com um personagem que tem algumas semelhanças com a avozinha, principalmente no verde…
Mas agora penso que percebem de onde veio essa lenda do Gato das Botas? No fundo, é como quase tudo o que rodeia a avó, de uma coisinha fizeram uma lenda mal contada (ou várias), e claro, os boatos encarregam-se do resto.
Sabem como é: Má vizinhança tem muito com que encher a pança. Já dizia a avozinha.
Paulo

Sem comentários: